sábado, 27 de dezembro de 2008

Inocência

-Amor?
-Hum?
-Vc lembra dessa nossa foto?
-Lembro sim, foi do nosso aniversário de um mês de namoro!
-Tudo tão diferente...
-Claro meu bem, já tem mais de ano!
-Não amor, mas não é isso... Olha o brilho nos nossos olhos, ainda dá quase pra sentir o calor dos nossos corpos juntos! O que será que aconteceu? Por que é que agora eu sinto frio?
-Isso se chama distância amor...
-E o que eu faço com o frio?
-Esse frio que me dá, quando eu sinto saudades, eu não sei o que fazer... Nunca me disseram o que fazer com ela!

02/01/08 ( Santa inocência!)

domingo, 16 de novembro de 2008

Clarice Lispector

Rifa-se um coração quase novo.
Um coração idealista.
Um coração como poucos.
Um coração à moda antiga.
Um coração moleque que insiste em pregar peças no seu usuário.

Rifa-se um coração que na realidade está um pouco usado, meio calejado, muito machucado e que teima em alimentar sonhos e, cultivar ilusões. Um pouco inconseqüente que nunca desiste de acreditar nas pessoas. Um leviano e precipitado coração que acha que Tim Maia estava certo quando escreveu: "não quero dinheiro, eu quero amor sincero, é isso que eu espero..."
Um idealista...
Um sonhador...

Rifa-se um coração que nunca aprende. Que não endurece, e mantém sempre viva a esperança de ser feliz, sendo simples e natural. Um coração insensato que comanda o racional sendo louco o suficiente para se apaixonar. Um furioso suicida que vive procurando relações e emoções verdadeiras.

Rifa-se um coração que insiste em cometer sempre os mesmos erros. Esse coração que erra, briga, se expõe. Perde o juízo por completo em nome de causas e paixões. Sai do sério e, às vezes revê suas posições arrependido de palavras e gestos.
Este coração tantas vezes incompreendido.
Tantas vezes provocado.
Tantas vezes impulsivo.

Rifa-se este desequilibrado emocional que abre sorrisos tão largos que quase dá pra engolir as orelhas, mas que também arranca lágrimas e faz murchar o rosto. Um coração para ser alugado, ou mesmo utilizado por quem gosta de emoções fortes. Um órgão abestado indicado apenas para quem quer viver intensamente, contra-indicado para os que apenas pretendem passar pela vida matando o tempo, defendendo-se das emoções.

Rifa-se um coração tão inocente que se mostra sem armaduras e deixa louco seu usuário. Um coração que quando parar de bater ouvirá o seu usuário dizer para São Pedro na hora da prestação de contas:
- "O Senhor pode conferir. Eu fiz tudo certo, só errei quando coloquei sentimento. Só fiz bobagens e me dei mal quando ouvi este louco coração de criança que insiste em não endurecer e se recusa a envelhecer".

Rifa-se um coração, ou mesmo troca-se por outro que tenha um pouco mais de juízo. Um órgão mais fiel ao seu usuário. Um amigo do peito que não maltrate tanto o ser que o abriga. Um coração que não seja tão inconseqüente.

Rifa-se um coração cego, surdo e mudo, mas que incomoda um bocado. Um verdadeiro caçador de aventuras que ainda não foi adotado, provavelmente, por se recusar a cultivar ares selvagens ou racionais, por não querer perder o estilo.

Oferece-se um coração vadio, sem raça, sem pedigree. Um simples coração humano. Um impulsivo membro de comportamento até meio ultrapassado. Um modelo cheio de defeitos que, mesmo estando fora do mercado, faz questão de não se modernizar, mas vez por outra, constrange o corpo que o domina. Um velho coração que convence seu usuário a publicar seus segredos e a ter a petulância de se aventurar como poeta.

domingo, 9 de novembro de 2008

Demais.

Era quase antagônico o jeito como ela encarava a vida.
Se pedisse que alguém a descrevesse a palavra mais dita seria intensidade.
Sempre fora assim com todos ao seu redor. Ela transpirava emoções que teimavam em não querer ficar somente à flor da pele. Era energia vibrante entre palavras, gestos e fios de cabelos.
Tudo era sempre demais pra ela.
Amar ou odiar demais, querer ou repulsar demais, acreditar ou ser cética demais, se iludir ou decepcionar demais. Demais, demais ela procurava o seu eixo, o seu equilíbrio.
E era engraçado o modo que ela usava de encontrar o meio termo.
Quanto mais decepções ela tinha, mais ela tratava de se levantar depressa, tirar a poeira e abrir um largo e belo sorriso de novo. Mas esse sorriso não tinha intenções, não era pra chamar atenção. O sorriso era pra ela só. Ela ria das desilusões e ria de si mesma, do próprio azar ou de como ela tinha colocado expectativas demais em cima de coisas tão pequenas.
Mas ela era demais, demais em tudo e era isso que preenchia ela de um modo que ninguém jamais poderia entender.
Seria mais fácil quem sabe se ela tivesse parado pra reclamar, da falta de sorte ou de caras que realmente tenham valido à pena, mas reclamar era uma coisa que gastava tanta energia dela. Era muito mais fácil se ela simplesmente sentasse num bar com as amigas e falasse meia dúzia de besteiras que a fizesse rir até a barriga doer e as preocupações desaparecerem.
O fato é que exitiam coisas que valiam muito mais a pena do que meras lamentações e lamentar era perder tempo demais.
E perder tempo era uma coisa que ela não gostava demais.
Talvez ela tenha perdido oportunidades importantes somente por que estava procurando aquilo que pudesse dar certo demais, que a tornasse a pessoa perfeita não enxergando que talvez as coisas poderiam somente dar certo e nada mais que isso.
Mas ela não esperava que ele trouxesse uma rosa e sim um buquê inteiro, ela não esperava um sorriso e sim um abraço apertado, ela não esperava alguém, ela esperava o príncipe encantado num cavalo branco.
E então mais uma vez ela se levantava e se vestia de qualquer outra princesa de conto de fadas e voltava a esperar ele com o seu buquê e seu abraço apertado.

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Espelho

- Estou sentindo falta de alguém. Não consigo não viver pra ninguém.
- Eu não preciso de outra pessoa pra viver pra alguém.
- Vive pra quem então?
- E é preciso viver pra mais alguém além de si mesmo?
- O que você vê no espelho?
- Vejo o reflexo dos outros em mim.
- Não sente falta de alguém além dos reflexos?
- A falta que faz não é de alguém em específico.
- Então se completa.
- Se completa com o que se quer completar e não com o que se enxerga.
- A completude é do reflexo e não da pessoa.
- Mas não se pode abraçar um reflexo.
- Muito menos a si mesmo.

terça-feira, 21 de outubro de 2008

As pequenas coisas

Vem, sente-se aqui! Quer um pouco de leite quente? Sei eu sei de todos esses problemas, mas você prefere com muito ou pouco chocolate? Não, eu não quero saber por que as coisas são tão complicadas, aliás eu acho tudo tão fácil. Claro que eu me preocupo com a gente, mas somente o necessário. Biscoitos? Necessário e suficiente se é isso que quer saber. Não, isso não quer dizer que estamos em um segundo plano, mas somente que eu cansei de cansar a cabeça com preocupações demais. Sabe, essas rosquinhas me lembram a minha avó, derretem na boca sem precisar mastigar! Amor? É, eu poderia dizer que entendo o que você está dizendo mas eu chamaria de intensidade. Em relação à que? Bom, em relação a gente horas. Você viu o noticiário? Aquela cantora famosa aprontou de novo, como é o nome dela mesmo? Não, intensidade não quer dizer que sinto de um modo diferente, digo que apenas tenho o que necessito. Isso, Britney Spears. Mas a minha necessidade é sim diferente da sua, aliás cada um tem a sua necessidade. Estou pensando em reorganizar os móveis da sala... o que você acha? Não precisa gritar, eu sei o que você está tentando me dizer, mas o que você ainda não entendeu é que pra mim saber que você está comigo é tudo que eu preciso, basta que você me fale meia dúzia de palavras inventadas e o meu dia enfeitou-se de cor-de-rosa. A necessidade da qual falo é de ver o seu sorriso bobo quando brinca com o cachorro na varanda ou quando me abraça forte até me sentir suspirar. Não, não... vamos esquecer as desculpas de outrora ou reviver os momentos ruins. Eu só quero que você me abrace, abrace e abrace até eu sumir nos seus braços me fazendo lembrar novamente daqueles biscoitinhos que derretem, desmancham e somem.

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Choque de ilusão

Hoje a minha fada madrinha veio me visitar, você nem imagina do que eu fiquei sabendo.
Ela me disse que daqui há um ano eu vou realizar um grande feito e vou ser reconhecida, também me disse que aquela casa na praia na qual eu fiquei babando duas horas não é nada perto da minha mansão nas ilhas Bahamas.
Me disse que o Cauã Reymond existe de verdade e que ele é apaixonado por mim, só não sabe ainda porque não teve a chance de me conhecer.
Disse que meu motorista vai ser o Jhonny Depp e que eu não precisaria ficar preocupada quando o meu marido fosse viajar dando palestras sobre como se tornar um empresário bem sucedido dono de uma multinacional.
Mas o que eu mais gostei mesmo foi da parte em que ela me disse que todos os meus ex namorados vão olhar pra trás e ao me ver vão se arrepender profundamente por tudo que fizeram e vão montar um fã clube dedicado à mim.
Mas eu ainda não cheguei na melhor parte, ela também falou que aquele filho-da-mãe que fez questão de fazer tudo exatamente daquele jeito que somente aqueles que me conhecem bem saberiam como fazer e que depois me deixou assim, suspirando ainda no dia seguinte sem notícias e sem um telefonema ia me pagar.
E ahhhh se vai!
Divertido não?

domingo, 5 de outubro de 2008

A cara de boba e o algodão doce

Então ali estava eu sentada no meu banquinho da praça, comendo algodão doce e vendo criancinhas felizes passeando com os pais. Algumas eram realmente quase anginhos, criancinhas loirinhas e de olhos claros que passam por você sorrindo com aquela carinha de inocente, outros são praticamente um furacão em miniatura. Tenho que lhe confessar que nunca gostei muito de crianças sabe. Mas ainda sim, era um dia bonito e calmo. Bom, calmo até o momento em que ele passou por mim.
De jeans claros e surrados, camiseta vermelha e óculos escuros. Não ele não é do tipo que chama atenção pelo visual, muito menos é um moreno capa de revista. Ele é daquele tipo que tem um charme interno, daqueles que te fazem se interessar somente pela curiosidade de descobrir o que tem demais naquele andar, naquele sorriso charmoso. Ah... e que charme! E que perfume...
E que sorriso...
E então eu poderia ter contado um ou dois dias desde o momento em que o avistei ali perto do escorregador onde uma criança brigava com outra e uma mãe tentava desesperadamente separar, até o momento em que ele passou pelo meu banco e pelo meu algodão doce.
E então minha bolsa caiu, acreditem ou não, por obra do acaso, e ele como gentleman que sempre fora pegou-a pra mim, me entregou em mãos e se sentou, disse seu nome, seu endereço, estado civil(não que isso me interessasse), suas preferências e também aquilo que odiava. E adivinhem? Incrível como ele combinava em cada detalhe comigo, incrível como ele conseguia sempre completar a minha frase ou encontrar aquela palavra que esqueci no meio da fala. Incrível como ele sabia sempre o que falar, ou as horas que deveria ficar calado, ou as horas que deveria me beijar.
E então eu poderia não só ter contado um ou dois dias, mas sim anos, décadas, do momento em que ele me abraçou e que todos os gritos das crianças e de seus pais, das buzinas nas ruas e do carro de propaganda política pararam de fazer sentido e se transfomaram em uma melodia perfeita, uma nova canção tema pra nós. Quase uma marcha nupcial.
Mas agora meus pés estavam grudando e isso não fazia parte da música, do beijo, do clima perfeito.
Dali em diante, eu poderia contar apenas alguns segundos do momento em que ele passou e sorriu pra mim, aquele sorriso lindo e lerdo, com certeza por me ver ali, sentada num banco de praça com um short horroroso em uma camiseta velha, olhando pra ele com uma cara de boba, sem perceber que o algodão doce tinha caído e estava ali aos meus pés, justamente onde estivera a minha bolsa. Mas diferentemente dos meus delírios ele não parou para pegar o meu algodão doce rosa melecado, ele simplesmente passou e sorriu. Me deixando ali, com a marcha nupcial, as crianças e a cara de boba.

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Pra sempre agora

Hoje é um daqueles dias em que a gente levanta com um sorriso na cara e um aperto no peito.
Um aperto bom e suspirante que não espera por qualquer tipo de explicação nem motivo.
Bom, o motivo sei-o bem, mas não é necessário que lhe seja comentado, nem dito.
O que não precisa ser dito fica entre nós e somente entre nós.
Hoje é um daqueles dias em que não conseguimos esperar por nada. O agora é algo tão necessário, quase como um vício. Eu preciso sentir o momento e isso que pulsa aqui dentro de um jeito totalmente insuspeitado.
Eu preciso de você. Agora.

domingo, 28 de setembro de 2008

O azul céu

A porta está ali, aberta e me esperando. É só questão de eu querer sair. Mas não, não é só questão de querer ou não, talvez seja uma questão física, biológica, páranormal ou qualquer outra desculpa que nós sempre arrumamos quando não conseguimos agir.
Agir. É eu preciso agir não é mesmo?
E a porta continua ali, me olhando, me esperando, pedindo pra ser fechada, trancada, esquecida.
Mas não é tão fácil assim não é? Afinal há um cômodo, um espaço e por mais oco que esteja faz parte do todo, não pode ser simplesmente esquecido. Quem sabe se eu ocupasse esse espaço com algo mais? Quem sabe ele não teria alguma utilidade?
E se eu pintasse as paredes de azul céu, se tivessem estrelas desenhadas na janela? Será que esse cômodo pareceria mais limpo, mais organizado, quem sabe até chamaria a atenção.
Mas chamar atenção pra que?
De tempos em tempos esse cômodo é alugado pra alguém que sempre deixa tudo em péssimo estado. Sem estrelas nas janelas e azul céu com cor de cinza tempestade. Então não seria melhor deixar que ele permanecesse assim, vazio? E a porta?
Ela continua me pedindo pra ser fechada.
Mas eu não quero deixar.
Tem pessoas querendo entrar, tem pessoas que eu quero que entrem, mas me falta a coragem de estragar as estrelas, de nublar o céu.
A porta continua lá.

domingo, 7 de setembro de 2008

É eu sei, que eu deveria estar escrevendo, eu sei que você corre sempre que pode os olhos por essas páginas pra ler as mesmas reclamações e que você bem gosta.
Mas ando cansada desses meus textos sempre tão iguais, do coração vazio, da dor e da saudade.
Ando cansada de ser você sempre a razão dessas linhas mal e porcamente escritas, desse sofrimento sempre que alguém toca no seu nome.
Ando cansada da minha confusão, logo eu que gosto de tudo em seu lugar, claro e organizado.
Esses textos me repetem. E eu odeio me repetir.

Não quero escrever pelo simples fato de que os textos me lembram você e agora eu estou tentando me desligar de tudo aquilo que me ligava à você.
Ahh... não! Não me peça pra ficar se você não sabe o por que quer que eu fique. Não torne as coisas mais difíceis pra mim ok?
Então vamos ser breves.
E deixar que o branco de uma nova página signifique, pra mim, realmente o novo, o começo, o BRANCO.



"Mas pelo menos hoje quero me desafiar a fazer algo muito mais difícil. Quero não sentir nada. Quero descansar meu coração de saco cheio das minhas invenções e precisando se preparar para viver algo de verdade."

domingo, 10 de agosto de 2008

"Confesso acordei achando tudo indiferente
Verdade acabei sentindo cada dia igual
Quem sabe isso passa sendo eu tão inconstante
Quem sabe o amor tenha chegado ao final"
Ana Carolina





Deixo ao som de Ana Carolina.
Tocando, no rádio e em mim.
Quando não se tem nada mais a dizer.

terça-feira, 29 de julho de 2008

"(...) e mais do que falar, preciso dizer.
Mas as palavras não dizem tudo, não dizem nada. "
(Meio Silêncio, Inventário do Ir-remediável - Caio Fernando)



Curioso é o poder da decepção.
Os heróis perdem sua capa, os reis suas coroas, os mestres sua devoção, os crentes sua fé e os amantes, ah, os amantes!
Esses, perdem sua admiração!

quinta-feira, 24 de julho de 2008

Perfeição

Alice era daquele tipo de pessoa que gostava de viver das mentiras.
Fossem mentiras que ela mesma inventava pra si, ou daquele tipo de "mentiras sinceras" que diziam pra ela.
Pra Alice, sua vida era perfeita em tudo. Como não tinha trabalho, a casa a ocupava o dia todo. Não havia casa como aquela. Nada ficava fora do lugar por mais que alguns minutos, não havia pó nas estantes e nem em qualquer outro lugar, o guarda-roupa era todo dividido por ocasiões, cores, estações do ano.Aquela era uma casa que beirava à perfeição.

Seu marido, gabava ela, era o típico executivo bem sucedido, ficava a maior parte do tempo trancafiado dentro de um escritório, na frente de um computador, tomando decisões importantes, pensando em lucros e porcentagens.

Ela passava o dia todo fazendo coisas que poderiam agradá-lo. Além de arrumar a casa, ela fazia as compras, o jantar, sempre pensando nos gostos do marido. Hoje era um dia especial, pensou ela. Afinal, dois anos juntos eram muita coisa. Saiu às compras. Comprou um vinho tinto, seco, caro. Com certeza ele gostaria. Velas, frutos-do-mar, vestido curto vermelho, sandália nova. Passou horas no cabelereiro e fez um retoque geral, cabelo, unhas, sombrancelha, maquiagem.
Saiu de lá prestes a explodir de tanto entusiasmo. A noite não poderia não ser perfeita.
Em casa, arrumada, mesa posta, velas acesas, perfume francês no decote, Alice esperava. Ele não demoraria à chegar.

Mas ele não lembrara dessa data, não lembrara dos dois anos, aliás, não lembrara nem do primeiro mês. Sempre fora assim, ele deixava o assunto do relacionamento dos dois para que Alice cuidasse. Ele se preocuparia só com as contas de casa, com os problemas do escritório. Assim, ele nunca enxergou problemas no seu casamento, nunca teve uma só discussão com Alice, melhor casamento ele não poderia encontrar.
E hoje, excepcionalmente hoje, noite de sexta ele resolveu sair com os amigos, tomar um chopp, falar mal do chefe e dos investidores gringos que estavam de visita.

Alice esperara, uma, duas, três horas até que pegou no sono, ainda com o pensamento na cabeça: "Ele já está chegando, deve ter tido algum problema no trabalho. Sempre muito ocupado coitado!" Quando chegou, Léo a encontrou jogada no sofá, maquiagem impecável, mas os cabelos já desgrenhados, esperava há muito tempo!Olhou pra mesa, as velas já apagadas, só o toco. Jantar frio, vinho quente.Lembrou-se dos dois anos, mas não quis acordar Alice. Pensou:"Tudo sempre tão perfeito! Coitada!"
Ele a carregou pro quarto e deitou-a na cama, tirou as sandálias, sentiu o aroma doce que vinha dela.Quis acordá-la, quis dizer o quanto sentia, o quanto ela não merecia aquilo, o quanto ele era desmazelado com tudo, o quanto ele já não mais pensava nos dois, e isso doía. Mas ele não conseguia explicar. Não conseguia dizer o quanto se sentia melhor com os amigos do que em casa. Não conseguia dizer à ela o quanto ele se incomodava com toda aquela perfeição em volta, com toda aquela pressão em cima dele. Omitia palavras, gestos e ações pelo simples fato de não querer que tudo aquilo se desmanchasse, como numa peça de teatro as falas eram dispostas cuidadosamente para que não quebrasse a mágica, aquela mágica perfeição.E então ele a deixou lá, tirou a mesa, lavou as louças e foi se deitar tentando se livrar daquela angústia, por que ele sabia que amanhã ele inventaria uma desculpa sobre como ele trabalha demais naquela empresa e que não pôde chegar mais cedo, mandaria flores pra ela e ela entenderia. Alice sempre entendera.
A compreensão era, ali, o primeiro passo para a perfeição.

domingo, 20 de julho de 2008

Opostos

Como olhar o seu oposto é assim que me vejo em você.
Como o antagonismo que sempre incomoda os que necessitam da perfeição e da harmonia da combinação.
Logo eu, que odeio rimas e métricas, gosto de tudo assim embaralhado e jogado formando uma nuvem de confusão não consegui enxergar a linha lógica da sua confusão.
Essa mistura de querer e não querer é algo muito irracional pro meu querer sempre explicar.
A minha necessidade racional de explicação se perdeu meio à palavras meio ditas, ações contraditórias.
Contraditório, oposto, antagônico.
É me parece que é assim a sua linha lógica.
O correr contra a maré e contra você mesmo.
Se escondendo meio a perguntas não respondidas e esquecidas num baú velho e desbotado.

O oposto do amor, da razão, de mim.
O oposto de qualquer explicação que eu possa dar.
O oposto do que eu sinto.

E ainda insistem em sustentar o velho e caduco bordão:
"Os opostos se atraem"




"... és meu oposto,
mas se por amor confundes e libertas
o caos de tudo e de todos,
por amor eu tento tocar mais fundo,
procurando um vôo
que não conseguiria jamais num amor menor".
(Caio F. Abreu, Dodecaedro)





sábado, 19 de julho de 2008

Sobre qualquer coisa assim

"Saudade de te ter sem te sentir, sem ter sentido, sem saber. Saudade de te ser sem ser lembrada, de saber te ter comigo sem chorar, sem ter sentido. Saudade de te saber antes de tê-lo sentido. Saudade de você como era quando eu me esqueci do rosto dos seus amigos. Quando eu te sabia pouco e só.
Quando eu te conhecia mais que a noite, mais que o álcool, mais que você mesmo."
Laís


Saudade de quando você era mais do que um corpo e só.
Essa sutil diferença entre uma pessoa e um corpo qualquer, entre diversão e sentimento.
Sim, eu sei. Um corpo poderia te suprir uma necessidade, um imediatismo, mas não a sua carência, nem a sua falta de afeto.
Um beijo pode ser prazeroso, mas um abraço pode ser muito mais se ali não estiver somente dois corpos, e sim duas almas, um coração.
Piegas não?
Não!
Não misture pieguismo com sentimentalismo. Mas se você é daquelas pessoas que não sabe a diferença, a sutil diferença, entre o piegas e o sentimental, entre um corpo e um coração. Você não precisa continuar a ler esse texto. Você provavelmente vai terminar de lê-lo e resmungar: "Dor-de-cutuvelo!"
Dizem que as coisas mais bonitas são aquelas escritas assim, à flor-da-pele, com os sentimentos à prova. E sim, que seja dor de cutuvelo ou o que for. E mesmo assim esse texto não vai passar a ser bonito ou admirável e eu nem pretendo que essa seja seu objetivo.
O objetivo desse emaranhado de palavras vomitadas numa página de internet, que menos de meia dúzia de pessoas vai ler, é arrancar essa parte feia e defeituosa de uma pessoa nada perfeita. É tirar um peso nas costas e um nó na garganta.
Um desabafo.
Um desabafo de coisas que já foram ditas milhões de vezes.
Um desabafo de frustração por estar de mãos atadas e coração aos pulos.

Quando tudo já foi dito, quando não há mais nada que fazer, quando você se sente perdida em si mesma, quando você quer mais que corpos, mais que frases displicentes e ações inconsequentes.
Quando você quer mais.
Mais.
Mais.

Mais de mim, de você, de nós.
Mais amor.

Entende?

sexta-feira, 4 de julho de 2008

"Mas sabes principalmente,com uma certa misericórdia doce por ti,por todos,que tudo passará um dia,quem sabe tão de repente quanto veio,ou lentamente,não importa.Só não saberás nunca que neste exato momento tens a beleza insuportável da coisa inteiramente viva.¨
Caio Fernando(Natureza Viva,Morangos Mofados)

Belo, vivo, intenso e também insuportável. Insuportável por não conseguir te ver partir e ao mesmo tempo querer que você se vá. Por mim, por você, por nós. Apesar da primeira pessoa do plural nunca ter realmente existido, voltarei a me contentar com a primeira, de novo, no singular.
O singular em toda sua simplicidade e harmonia me parece estranho e incompleto. Me faltam palavras na boca e sobram vazios no coração.
Entre sobras e faltas, me falta o equilíbrio.

segunda-feira, 16 de junho de 2008

A caixa

Estava ali na loja há horas e ainda não conseguira encontrar a caixinha que me agradasse.
Aquela era a loja onde qualquer mulher se fascinaria. Dentro dela havia centenas de prateleiras com caixinhas de música, presentes, porta-jóias ou pra qualquer outra coisa que alguém seria capaz de imaginar. E eram tantos os detalhes, os desenhos e enfeites que dava a impressão de estar dentro de um livro de conto de fadas.
Já havia visto caixinhas dos mais variados tipos, que tocava música, que brilhava, com espelho, perfume, flores. E a cada prateleira que andava tinha cada vez mais certeza de que nunca conseguiria se decidir sobre qual delas levar. Enquanto andava pela loja, vi chegar uma garotinha com a sua mãe. Pelo brilho no olhar da garota, estava claro que era a primeira caixa que ela ganharia e, acredite, isso é um marco pra qualquer garota naquela idade. A mãe deixou a menina andar pela loja e escolher qual delas levaria enquanto conversava com uma outra amiga no balcão.
Pensei ao ver a cara de felicidade estampada na garota em quanto tempo ela levaria pra escolher. O quão ela não ficaria fascinada por cada caixa diferente em cada estante que passasse. O tamanho da vontade que ela não teria de levar todas.
Era assim que eu me sentia.
Voltei-me pra caixa que segurava na mão. Ela era azul brilhante como o céu, com estrelas que reluziam de uma forma que me hipnotizava. Mas aquela menininha naquele exato momento me fez esquecer de qualquer que fosse a caixa ou estampa. Em menos de 10 minutos ela havia voltado ao balcão com uma caixa na mão. Ela já havia escolhido seu presente.
Ao olhar pra ela não acreditei. Era uma caixa de madeira fosca, sem cor ou brilho algum. Sem qualquer tipo de estampas que as meninas sempre adoram, ou animaizinhos fofos. Era uma caixa simples, apenas com uma rosa em cima. Uma rosa vermelho vibrante.
Assim como eu, sua mãe ficara estupefata com a escolha da menina e então virou-se pra ela:

- Isadora! Tem certeza de que é essa que você quer? Não vejo graça alguma nela! Há tantas caixas lindas e você me escolhe essa?
- Mas mãe, a beleza dela só eu posso ver!

Aquela caixa não era mágica, não tinha qualquer tipo de encanto ou algo especial. Era apenas mais uma caixa como as outras. O que a fazia diferente era como a menina a via. E ao pegar a caixa agora embrulhada pra presente eu conseguir ver nos olhso dela que nenhuma caixa por mais bonita e perfeita que fosse a satisfaria mais que àquela.

sábado, 7 de junho de 2008

Carta de despedida.

Não, eu não quero saber o por quê dessas suas atitudes tão insanas e duvidosas. O que eu quero é agradecer. Agradecer à você por me mostrar a cada dia que você não é, nem nunca foi, quem eu amei. Aquele ao qual amei, habitava o seu corpo numa espécie de personagem, no qual eu fiz e refiz várias vezes todas as qualidades e perfeições. Escrevia o roteiro das suas falas e organizava explicações plausíveis pra todas as suas outras ações tão inexplicáveis. Mas hoje, o palco caiu, a curtina se fechou, a platéia se foi. O personagem foi ruindo, ruindo até existir somente o pó e o cenário. Este no qual eu prefiro não me desfazer pois pode servir à outros personagens que talvez eu venha a criar. Já o pó, eu estou varrendo ele pra debaixo do tapete, pra que no futuro eu possa levantá-lo, olhar aquela sujeira e ver no que não se deve acreditar.
Sim meu caro, isso se deve inteiramente à você.
O personagem perfeito, envolto na redoma de vidro impenetrável e intocável, foi desfeito, sua redoma quebrada, o roteiro desmentido. E eu, durante esse desfeche, permaneço aqui sentada como expectadora que agora sou, assisto tudo com interesse e, confesso, achando um pouco de graça.
Nada como rir da sua burrice de outrora.
Nada como perceber a beleza da mudança.

Méritos seus e, somente, seus.

Att.
Clara

quarta-feira, 4 de junho de 2008

Queria escrever aqui alguma coisa diferente das que sempre escrevo, mas já não mais tenho idéias. As coisas que quero dizer são as mesmas de sempre, os sentimentos causando as mesmas reviravoltas, quem sabe um pouco mais apimentados com desejo e mágoa. Já não sei mais como expressar. O meu corpo, fala e expressão estão inutilmente presos à mesma rotina e isso me parece durar séculos. E eu sinto, essas algemas são de espinho, espinho e falta de compaixão. E toda vez que eu tento me livrar delas, elas espetam e eu recuo. Recuo com medo de me machucar. Talvez seja isso, e quando eu não mais tiver medo de me machucar meu corpo, alma e mente estejam, realmente, livres de novo.



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Ausência

Eu deixarei que morra em mim
o desejo de amar os teus olhos que são doces
Porque nada te poderei dar
senão a mágoa de me veres eternamente exausto.
No entanto a tua presença é qualquer coisa como a luz e a vida
E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto
e em minha voz a tua voz.
Não te quero ter porque em meu ser tudo estaria terminado
Quero só que surjas em mim como a fé nos desesperados
Para que eu possa levar uma gota de orvalho
nesta terra amaldiçoada
Que ficou sobre a minha carne como nódoa do passado.
Eu deixarei...
tu irás e encostarás a tua face em outra face.
Teus dedos enlaçarão outros dedos
e tu desabrocharás para a madrugada.
Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu,
porque eu fui o grande íntimo da noite.
Porque eu encostei minha face na face da noite
e ouvi a tua fala amorosa.
Porque meus dedos enlaçaram os dedos da névoa
suspensos no espaço.
E eu trouxe até mim a misteriosa essência
do teu abandono desordenado.
Eu ficarei só como os veleiros nos pontos silenciosos.
Mas eu te possuirei como ninguém porque poderei partir.
E todas as lamentações do mar,
do vento,
do céu,
das aves,
das estrelas.
Serão a tua voz presente,
a tua voz ausente,
a tua voz serenizada.
Vinícius de Moraes



Um pouco mais: Vai - Ana Carolina

domingo, 25 de maio de 2008

Vício

Ela poderia jurar que passaria horas daquele jeito. A maneira como eles se encaravam agora era tão intenso e verdadeiro que qualquer frase dita seria insuficiente pros dois. E também, ela sabia que tudo que tinha pra ser dito já fora dito, tudo que cabia no entendimento dos dois já fora explicado com inteira cumplicidade e sinceridade. Mas ainda sim ela sentia que algo ainda faltava, que algo impedia que fosse colocado o ponto final naquela história. Talvez fosse o fato de que ele, pra ela, sempre fora um enorme ponto de interrogação. Ela nunca soubera dizer o que nele era sentimento, o que era razão. Ela nunca descobrira a intensidade dos sentimentos dele e nem que tipo de sentimentos eram. Olhando agora, aqueles olhos já bastante conhecidos, ela pensava em tudo isso e pensava se ele saberia explicar os seus próprios sentimentos. Difícil entender os outros quando nem eles mesmos se entendem - pensou ela.

O que será que ele pensava agora? O que será que havia por trás de uma pessoa que é inteira impulso e vontades sem explicações? Como será viver sem saber o que você está sentindo, sem saber o porquê das suas ações?

Ela suspirou, saber que ela nunca teria essas respostas e que talvez nem ele mesmo chegasse a entender isso era frustrante. O que quer que ele estivesse pensando agora, era uma coisa só dele, mas aquele momento em si pertencia aos dois. Independente de como cada um se sentia, independente de como tudo havia terminado, aquele olhar de cumplicidade estaria sempre ali, estaria sempre mantendo essa ligação que está acima de tudo que acontecera. Por que essa ligação é como um fio, um único e fino fio que vive no suspiro dos dois de não deixar que ele se parta. Quem sabe, um dia, ela possa chamar esse fio de amizade e nada mais.


"Oh meu amigo,
eu esperei tanto tempo por respostas
e depois de tanto tempo
Ainda havia mais, pra esperar"
Nenhum de nós


Dica: Eu não entendo - Nenhum de nós

sexta-feira, 23 de maio de 2008



"I'm not calling for a second chance,

I'm screamming at the top of my voice,
give me reason but don't give me choice,
'Cause I'll just make the SAME mistake AGAIN"
James Blunt


Há alguns dias que as palavras me faltam, fogem de mim como algo estranho e irreconhecível. Sinto, porém, uma vontade quase inadiável de escrever, de colocar entre linhas esse emaranhado de coisas tão difíceis de entender e explicar.
É tanta ondulação de emoções e pensamentos, tanta repressão de atitudes, tantas frases meio ditas, palavras faltando no diálogo e sobrando na boca, que me entopem e entorpecem o cérebro. São tantas as minhas vontades agora que ouso dizer que a sutil diferença entre o querer e o não querer, entre a burrice e a inteligência já deixou de fazer sentido. Nessas horas de falta de controle e racionalização, o que eu vejo é só impulso. Impulso que me faz querer o racionalmente errado, impulso que confunde a exasperação com a exaltação, impulso que me engasga, me afunila, me sufoca e me fadiga. Impulso esse que vomita essas palavras numa tentativa inútil de explicar o inexplicável e entender algo que beira o surreal.



domingo, 4 de maio de 2008

E quando você diz pra eu me acalmar, aí é que eu me desespero.
Quando a sua fala fica mansa e seu olhar doce, é como se me dissesse pra ficar preparada, pra ser forte, pra não chorar.
Quando eu vejo os cacos no chão e as mentiras sobre a mesa surpreendo-me com um olhar de desprezo, ou quem dirá, de indiferença.
Há muito venho fazendo assim, fecho os olhos e te enxergo como eu quero, como um amante que você nunca foi pra mim e, ouso a dizer sem dúvida alguma, nunca foi pra ninguém. Mas agora que os meus olhos estão abertos eu aproveito pra me deliciar da cruel verdade.
A verdade que me diz em alto e bom som: BASTA!
De nada me consola sempre ter falsos amantes, de tê-los somente comigo, do meu jeito, como pessoas perfeitas pra mim! Não existe pessoas perfeitas pra mim, do mesmo jeito que não as existem pra você! E se um dia eu te fiz perfeito, se um dia eu fiz alguém perfeito, quero me desfazer dessa ilusão. E é disso, exatamente disso, que me desfaço agora.
Desfaço e desfacelo,
em tantos eus, vocês e nós.
Até tudo isso virar eu e, apenas, eu.

quinta-feira, 1 de maio de 2008

Quando você começa a correr contra o tempo, quando as coisas banais e rotineiras começam a fazer falta, quando você se cansa do dia-a-dia, então o que você faz?
O que me falta é a banalidade e as coisas fúteis, as tardes deitada no sofá dormindo depois do almoço e vendo novelas antigas, os dias andando sem objetivo pelas ruas e lojas, as conversas sem sentido com os amigos que duram dias.
Então você pensa em largar tudo, então você pensa em jogar tudo pro alto. E nessas horas sempre tem alguém pra lhe dizer que você será recompensado, que vai valer a pena todo esse esforço. Mas me diga, e meus amigos? Quem lhes trarão de volta quando cada um deles for engolido pelo mercado de trabalho? Quem trará minhas tardes debaixo de árvores jogando conversa fora?

Não, eu sei... É o preço que se paga. Sempre há um preço pelas decisões tomadas. E é incrível como a cada ano que passa esse preço aumenta mais e quando ele começa a ficar alto demais a gente se pergunta o que vale mais a pena.

Te digo que se tivesse coragem o sufuciente largava tudo agora, iria viver do meu jeito, sem preocupações, devaneantemente.
Te digo, se pudesse não cresceria nunca, pararia o tempo naquele exato momento em que tudo se resumia em algodão doce e chocolate!




Pra lembrar:

"Tornar uma amor real
é expulsá-lo de você
pra que ele possa ser de alguém."
Nando Reis

segunda-feira, 21 de abril de 2008

Esperança.

- Mas isso não quer dizer que não possa ser bom de novo. Eu ainda acredito que um dia tudo vai voltar àquela paz de antes. Eu tenho essa esperança e não vou perdê-la!

Era engraçado e até mesmo cativante a maneira como ele era positivo e paciente em relação ao futuro. Não era seu único amigo que depositava todas suas fichas nessa falsa amiga, a esperança. Mas apesar de achá-la falsa, ela admirava a confiança que ele tinha. É fácil admirar nos outros o que sempre foi sua fraqueza. Ali, enquanto ele falava sobre acontecimentos recentes, ela devaneava sobre essa tal da esperança.

Como pode alguém ser tão cheio de esperança que espere sempre o melhor do futuro? Como pode alguém nunca se decepcionar com ela?
Mas ela estava enganada, e logo percebeu isso. Ele já havia se decepcionado várias vezes, mas também várias vezes havia levantado e confiado de novo, sempre agarrado na justificativa de que ainda esperava que um dia fosse dar certo.
Resgatou do sótão empoeirado da memória um tempo que ela tinha quase uma certeza inquestionável de que tudo que queria seria alcançado. Pesou os resultados. Por um momento, ela se voltou ao amigo, que continuava a gesticular e falar coisas, que agora, pareciam não ter nexo algum. Os resultados eram o que chamava a sua atenção agora. Tudo que envolvia a razão, obtera os melhores resultados, sempre alcançando suas expectativas, já os que envolviam a emoção, ela não conseguiria palavra melhor que o caos.
O engraçado é que analisando friamente, o caos se impunha externamente à ela. Por má sorte, se é que ela acreditava em sorte, sempre que ela conseguia se acertar com os seus sentimentos, algo de fora vinha lhe desmoronar.
Será a sorte a maldita guia dessas desastrosas relações sentimentais que sempre tivera? Teria intão uma causa ou um culpado?
Outro súbito pensamento lhe trouxe o olhar ao amigo de novo, ele agora ria, de algo que ela não saberia dizer. E ela se pegou rindo também. O que o amigo falara não importava. Ali, naquele exato momento, ela tinha se dado conta de algo que há muito pedia por explicação.
Ela conseguiu enxergar o mais difícil dos defeitos. Se lembrou de quando disse um dia à uma amiga o quanto era fácil achar o defeito dos outros, difícil mesmo era enxergar o seu. Se viu, ali, vitíma da sua própria frase. Pela segunda vez, há algum tempo atrás, ela havia culpado alguém de ser racional demais, de se esquecer do coração. Mas ao tentar explicar o seu eterno fracasso emocional, ela se viu racionalizando a si própria, racionalizando seus sentimentos. Será mesmo tão difícil saber o porquê de tanto sucesso na área racional? Se não era ela mesma a culpada de racionalizar seus sentimentos e emoções?

Talvez de tanto querer controlar as situações e os sentimentos, a razão tenha se imposto sobre emoção. Talvez depois de saber disso, ela passe a entender melhor, os que antes julgou com frieza. Talvez agora ela mudasse. Talvez agora ela saisse do controle e experimentasse deixar tudo ao sabor da sorte, do futuro. Talvez agora ela devesse ter esperança no futuro, assim com seu amigo.

Ao pensar nele, ela voltou à realidade, viu que ainda estava rindo de sim mesma e de todo esse turbilhão de coisas que estavam passando pela sua cabeça. Mas não foi necessário explicar nada à ele. Ele ria com ela, como se compartilhasse de toda àquela descoberta e, mesmo que não soubesse, ele havia compartilhado muito mais do que ambos eram capazes de compreender.

domingo, 13 de abril de 2008

Talvez de tanto egoísmo eu queira, realmente, pedir que você fique.

"Talvez por amor, por precisão, talvez por capricho, por medo; da solidão, da noite, do vazio, da ausência, talvez por egoísmo eu queira pedir que você fique. Mas eu não vou. Não vou por orgulho, por desistência, por experiências anteriores, por cansaço, por resistência, ou talvez por amor... pelo meu amor... o amor próprio."
Adri.

Quando fico assim, no escuro, consigo enxergar o que você não vê. Não vê por que não quer ou por que essa sua frieza não lhe deixa. Quanto mais eu vejo, mais eu entendo que fizemos a coisa certa, mais concordo com o ponto final. E, talvez, agora eu consiga entender o que há de vantagem em ser tão racional. Quando se começa a colocar a razão no centro de tudo, as dores e os sentimentos são menos intensos. Ouso a dizer que alguns sentimentos sumiram ou deram lugar a outros mais amenos, menos complexos. Mas ainda não consegui me convencer de que esse é um bom caminho, não consegui enxergar o que há de bom em ser milimetricamente racional. Não quero perder minha intensidade, não quero perder meu gosto por gostar das pessoas. Não por você e nem por ninguém. Ouvi um dia alguém dizer que a cada vez que se apaixonava e sofria uma desilusão, dava vontade de nunca mais se apaixonar por ninguém. Chame de atrevimento, teimosia ou o que for, mas a minha vontade de amar aumenta a cada vez que depois de uma grande desilusão eu consigo enxergar que eu mereço mais e que esse mais existe em lugares tão mais próximos do que você mesmo consegue ver.


"Toda vez que falta luz,
toda vez que algo nos falta,
o invisível nos salta aos olhos..."
Engenheiros do Hawaii

sexta-feira, 11 de abril de 2008

Se fosse...

Se fosse pra escolher um momento, eu diria o agora. Não esperaria um futuro melhor, ilusão de quem espera ser feliz num futuro próximo. Eu não: quero ser feliz agora! Se fosse pra escolher as palavras certas, eu simplesmente não as escolheria. Deixarei com que elas tenham vontade própria, vida livre pra formarem sentenças tão verdadeiras que eu mesma me supreenda com tamanha sinceridade.
Se fosse pra fazer um pedido, eu pediria que o tempo passasse mais devagar, que eu pudesse aproveitar cada dia com mais gosto do que eu vejo hoje. Mas se fosse pra pedir que algo se mantivesse como está hoje, eu manteria meus amigos. Eu manteria meu dia-a-dia que reclamo todas as manhãs por ser tão corrido, mas não posso negar: essa rotina é divertida! E como é!
Se fosse pra escolher uma lembrança pra deixar viva pra sempre, eu escolheria um sorriso. Um sorriso de cada um dos que me completa!
Se fosse pra falar dos que odeio, eu diria que não vale a pena manter rancor, lele te deixa mais dura, mais fria. Prefiro dizer que essas pessoas eu esqueci ou bani da minha convivencia.
Mantenho ao meu redor somente aquelas que me fazem bem.
Se fosse pra escolher alguém, eu escolheria a mim mesma.
Se fosse pra escolher um amor, eu escolheria o amor-próprio.
Se fosse pra fazer um pedido à você, não pediria que me entendesse, pediria somente que fosse complascente!

sábado, 5 de abril de 2008

Desculpa.

"Você me diz que eu te olho profundamente...
Desculpa, tudo que vivi foi profundamente.

Eu te ensinei quem sou e você foi me tirando os espaços entre os abraços,
Guarda-me apenas uma fresta.

Eu que sempre fui livre, não importava o que os outros dissessem.
Até onde posso ir para te resgatar?
Reclama de mim, como se houvesse possibilidade de eu me inventar de novo.

Desculpa, desculpa se te olho profundamente, rente à pele
A ponto de ver seus ancestrais nos seus traços,
A ponto de ver a estrada antes dos teus passos.

Eu não vou separar minhas vitórias dos meus fracassos!
Eu não vou renunciar a mim; nenhuma parte, nenhum pedaço do meu ser vibrante, errante, sujo, livre, quente.

Eu quero estar viva e permanecer te olhando profundamente!"

(Recitado por Ana Carolina na turnê "Dois Quartos")


domingo, 30 de março de 2008

"Deixa o nosso amor morrer sem graça e sem poesia
Deixa tudo como está e se puder, sem medo
Deixa tudo que lembrar eu finjo que esqueço
Deixa e quando não voltar eu finjo que não importa
Deixa eu ver se me recordo uma frase de efeito
Pra dizer te vendo ir fechando atrás da porta"
Oswaldo Montenegro


Deixa em cima dessa mesa aquele pedaço de papel em que você se despediu, mas feche a porta ao sair, pra eu poder ter certeza de que você se foi pra não mais voltar, pra que eu não corra o perigo de te procurar.
Dê-me às costas e então, não olhe pra trás, não dê nenhum último sorriso ou diga "Desculpe, meu amor." O seu sorriso, agora, é algo que me dói, algo que eu não gosto de ver nem de lembrar, aliás, as lembranças se tornaram minhas maiores inimigas. As suas palavras de consolo pro que você acaba de fazer, ao contrário do que pensa, não consolam mais, não me confortam. Essas frases soltas me soam ocas, clichês como qualquer bom dia dado sem atenção.
Faça-me o favor de levar todas essas nossas fotos consigo, pra que elas não acabem recortadas ou jogadas na lata de lixo. Leve também aqueles vasos de plantas que você tanto gosta de enfeitar a casa. Hoje, a casa não vai ficar enfeitada, não há motivos pra isso. Leve também, se quiser, aquele seus potes de café descafeinado que, eu nunca disse, mas sempre odiei. Leve tudo que quiser, tudo que me lembre a gente, o que vivemos, mas deixe por favor, a sua chave de casa. Essa, faço questão de manter longe de você.
Ao sair, quero olhar pra essa casa e me lembrar que ela agora é só minha de novo, do jeito que eu sempre quis, com os objetos nos lugares certos, sem ter que me preocupar com as suas bagunças, com suas manias estúpidas, com seus gostos excêntricos. Assim como agora, também quero olhar pra mim e ver que sou só minha de novo, sem ter que me lembrar de que tem alguém que espera por mim, que mantém expectativas dos meus atos, que se preocupa comigo. Gosto de pensar que estou de novo no comando. Quero, agora, viver pra mim e pra mim só.

sexta-feira, 28 de março de 2008

Ali, no meio da sala vazia ele observava um objeto com forma de um cubo. Estava ali já há alguns minutos parado e mesmo assim ainda naum conseguira entender o que era aquilo.
Talvez, pensava ele, isso seja um banco. Não, muito simples e decorado demais pra ser somente um banco. Quem sabe então seja um cofre. Não, não vejo qualquer tipo de tranca ou cadeado. Será que é algum tipo de bomba? Não, não poderia, não se parece nada com explosivos ou qualquer coisa do gênero. Quem sabe isso não seja um embrulho? E o que realmente importa esteja lá dentro? É isso!
Mas o que será que há lá dentro? Ele rodeou o objeto, começou a imaginar o que haveria lá dentro.
Talvez objetos valiosos que alguem escondera, talvez bugigangas de mudança que alguém esqueceu, talvez um presente, talvez roupas velhas, talvez cartas esquecidas, talvez fotos antigas, talvez, talvez...

Estendeu a mão, puxou o objeto pra si. Não era pesado, não fazia nenhum barulho. Sacudiu. Nenhuma reação, nenhum sinal do que era aquilo. Parecia não ter nada dentro. E era melhor não danificar nem fazer movimentos bruscos demais, o medo do desconhecido o fizera mais cauteloso. O que quer que fosse, pensou, ele nunca chegaria a descobrir, então o medo e o cansaço venceram a sua curiosidade. Resolveu esquecer aquele objeto e seguir seu caminho.
E seguiu em frente.
Por algum tempo a curiosidade ainda lhe incomodava, durante muitos dias e noites ele gastou horas pensando se deveria ter desistido tão fácil, se fora covarde, se o objeto seria importante, se seria de alguém, se esse alguém o procurava. Mas o tempo fez o favor de calar suas dúvidas, pode-se dizer que depois de se passado muito tempo, ele esqueceu o objeto. Mas o tempo não só o fizera esquecê-lo mas também entendê-lo. No fim, entendeu ele, aquilo era somente uma caixa. Uma caixa e nada mais.


"Quanto mais simplicidade
Melhor o nascer do dia"
Pato Fu

domingo, 23 de março de 2008

Sobre hipocrisia e babaquice

Chega!
Vamos parar de hipocrisia. Não quero mais fingir que o mundo é um mar de rosas que eu quero enxergar, porque ele não é, nunca foi e nunca vai ser. Quero parar de calar os gritos que eu mantenho assim, em silêncio, latejantes. A partir de hoje eles vão sair quando quiserem, onde quiserem e com a intensidade necessária. Vamos parar de acreditar que a gente consegue se enganar. Vamos começar a quebrar aquele muro erguido em torno da casa. Aquele muro que fazia dessa moradia uma espécie de fortaleza e, só assim, você vai começar a ver o quão podre essa casa é, o quanto as paredes são frágeis e vulneráveis ao tempo ou a qualquer mudança drástica demais.
Você vai ver que a farsa pode modificar a fachada, mas por dentro, a casa continua podre, com aquele cheiro de mofo horroroso que você não suporta, com as portas corroídas e as janelas em pedaços. Com os retratos aos pedaços jogados no chão, e as cartas borradas de qualquer tipo de bebida barata que poderia ter caído nelas durante uma noite de revolta.
E daí, quando a muralha cair e você descobrir que aquela moradia não é uma fortaleza, você vai olhar pra tudo que construiu acreditando na fortaleza, que agora não existe mais. O que está ali na sua frente são apenas cacos. Cacos da sua incrível realidade.

sexta-feira, 21 de março de 2008

"E que a força do medo que tenho, não me impeça de ver o que anseio.
Que a morte de tudo o que acredito não me tape os ouvidos nem a boca
Porque metade de mim é o que eu grito, mas a outra metade é silêncio.
Que a música que eu ouço ao longe, seja linda, ainda que tristeza
Que a mulher que eu amo seja pra sempre amada mesmo que distante
Porque metade de mim é partida e a outra metade é saudade.

Que as palavras que eu falo não sejam ouvidas como prece, nem repetidas com fervor,
apenas respeitadas, como a única coisa que resta a um homem inundado de sentimentos
Porque metade de mim é o que ouço, mas a outra metade é o que calo
Que essa minha vontade de ir embora se transforme na calma e na paz que eu mereço
Que essa tenção que me corroe por dentro seja um dia recompensada

Que o espelho reflita em meu rosto, um doce sorriso, que me lembro ter dado na infância
Porque metade de mim é a lembrança do que fui, a outra metade eu não sei
Que não seja preciso mais do que uma simples alegria para me fazer aquietar o espírito

E que o teu silêncio me fale cada vez mais
Porque metade de mim é abrigo, mas a outra metade é cansaço
Que a arte nos aponte uma resposta, mesmo que ela não saiba
E que ninguém a tente complicar porque é preciso simplicidade para fazê-la florescer
Porque metade de mim é a platéia, e a outra metade é canção
E que a minha loucura seja perdoada,
Porque metade de mim é amor, e a outra metade...
Também!"

Metade - Oswaldo Montenegro


sexta-feira, 14 de março de 2008

Primavera

O sol lá fora está brilhando de um jeito afetado, o céu azul tira qualquer esperança de um dia chuvoso e nublado. Aqui do quarto andar, quase posso ouvir as vozes felizes das pessoas no parque ao lado. É primavera. Que afronta! Me recuso a participar dessa euforia em que tudo se transforma em meio a plantas floridas e casais apaixonados. Pela primeira vez ao acordar, fiz questão de manter a casa toda fechada, as janelas me protegem da idéia de que lá fora existem risos demais, alegria demais, crianças demais. Ah, as crianças! Hoje, não suporto nem a idéia de que elas existem, de que elas me confrontam. O ar abafado do meu quarto me deixa à vontade comigo mesma, entra em comunhão com meu estado de espírito e me faz esquecer a sensação de estar fora do conjunto de pessoas primaverianas. Dentro da minha casa eu mando no clima e no tempo. Hoje os minutos estão voando, o que eu vejo é uma densa neblina sobre o quarto, salas e todo resto e que me impede de ver qualquer coisa que eu não queira, bloqueia os pensamentos que eu venho lutando pra deixar longe. Tudo que necessito agora é simplesmente não me mexer, movimentos demais podem dissipar toda essa farsa e eu não suportaria primavera. Não hoje, não agora.


"Não quero me lembrar de você como alguém que me fez mal
Teremos coisas boas pra contar
Mas hoje não vai dar pra ser..."
Tihuana

sábado, 8 de março de 2008

Vento, ventania II (Continuação)

http://oinsanoeosutil.blogspot.com/2008/01/vento-ventania.html


Porém, a fraqueza que lhe sobrava não era maior que sua curiosidade e sua esperança de que a brisa não fosse o vendaval que ela achava que era. A cada movimento de volta à janela ela se perguntava se deveria arriscar, se seria seguro colocar sua casa à mercê do tempo.
Um dia, então, ela resolveu desafiar os outros, desafiar o vendaval que tinha varrido sua coisas há algum tempo, resolveu desafiar a si mesma. Mais uma vez olhou pra cada móvel, pra cada livro na estante, cada objeto em seu lugar, a casa estava impecável. Belo trabalho eu fiz, pensou ela. Então, cuidadosamente ela se dirigiu à janela, ainda com medo abriu uma, duas, três... Sentiu de novo a brisa da manhã batendo no seu rosto, sentiu o perfume da chuva que havia caído durante a noite, sentiu a leveza das flores da primavera. O sentimento era tão sublime que resolveu abrir as portas também, e assim sua casa estava de novo cheia de vida, leve, brilhante, luminosa.
Quase não querendo se render ao fim da manhã a tarde chegara de novo, ela não podia deixar de esconder o medo que sentia a cada minuto que se passava, mas então, já no meio da tarde decidiu se despreocupar, talvez a tarde não fosse mais ameaçadora, talvez a brisa realmente não fosse a causa do vendaval antes presenciado por ela.
Ela se jogou no sofá, se deliciou em novamente poder se sentir leve como agora, ela poderia voar se quisesse, poderia cantar, poderia não mais se preocupar em arrumar a casa, ela gostava do jeito que estava agora.
Mas nós sabemos que não podemos nos deixar tão vulneráveis, nós sabemos que confiar demais em algo que um dia já nos destroçou pode ser um erro irremediável e foi quando ela se jogou no sofá que algo aconteceu. Pela segunda vez, ela sentiu a brisa leve indo embora, sentiu de novo a força de um vento que ela conhecia bem, mas não podia acreditar. Será que ele novamente vai destruir tudo? Vai destruir minha casa que arrumei com tanta dor e sofrimento?
Mas o vendaval não se importava com a casa, não se importava com os móveis, muito menos com o tempo que ela passou arrumando tudo que tinha sido desarrumado da última vez que ele passara por ali. E ela viu mais uma vez tudo ser jogado ao chão, viu todas as suas coisas serem amontoadas com uma falta de consideração que lhe causou desprezo, não só pelo vento que agora passava por ali, mas pela brisa, que lhe fizera acreditar que poderia ser diferente pelo menos por uma vez.
Então ela simplesmente ficou ali, vendo sua casa desmoronar, vendo todo seu trabalho de reconstrução ser jogado no lixo, então esperou, esperou que o vendaval passasse e quando ele passou ela não se lamentou, ela não praguejou, ela não se culpou por ter acreditado mais uma vez, ela somente se levantou e fechou de novo as janelas e as portas, sua casa voltara a ficar escura de novo. Ela olhou pra toda aquela bagunça, suspirou fundo e tentou achar as mesmas forças que lhe fizeram reconstruir tudo uma vez e então colocou o primeiro livro de volta na estante. Uma lágrima pesada e solitária desceu pelo seu rosto e com a mesma rapidez com que veio desapareceu também. Não há tempo a perder com lamentações, ainda há muito trabalho aqui, pensou ela.

sexta-feira, 7 de março de 2008

"Na verdade o nada é uma palavra
esperando tradução..."
Engenheiros do Hawaii




Essas linhas aqui escritas são a maior tradução do nada. Mas não o nada como um branco de pensamento, ou a falta de palavras no meio de uma explicação, ou o vazio de sentimento. Esse nada aqui escrito é a conseqüência de um tudo. De tantas coisas querendo ser expressas ao mesmo tempo que a única coisa que fica realmente visível é uma mistura de palavras e pensamentos numa desordem magistral.
É o nada cheio de qualquer coisa que se possa imaginar, é o nada que te incomoda por ser justamente tudo aquilo que você não queria na vida. Aquilo que você joga fora mas ele teima em voltar mostrando o quanto você é fraca. Um nada que ocupa o maior espaço da sua cabeça enchendo-a de pensamentos inúteis.
Um nada que não tem origem e você nem sabe se vai ter fim.
Afinal, quem sabe definir o nada?
Não, não... O nada não é algo escuro muito menos a falta ou o vazio. O nada é algo cheio, entupido, encrostado de tantas coisas que desse tudo a explicação simplesmente não faz sentido e quando alguém te pergunta o que você tem a resposta é a mais sincera e simples possível: NADA!

quarta-feira, 5 de março de 2008

"Tudo tem que ser bem de leve para
eu não me assustar e não assustar os
que amo.
Pedem-me pouco, pedem-me quase nada.
O terrível é que eu tenho muito para dar
e tenho que engolir esse muito e ainda
por cima dizer com delicadeza : obrigada
por receberem de mim um pouquinho de mim."
Clarice Lispector

Sem textos por hoje, para não assustar a mim mesmo e aos outros.

segunda-feira, 3 de março de 2008

Garoto de aluguel

" Quanto tempo falta
Para lhe esquecer
Quanto vale um homem
Para amar você..."
Zé Ramalho



Vista logo sua roupa, pegue seu dinheiro e vá embora. Feche a porta quando sair pra que eu possa ter certeza de que eu ficarei sozinho e não se dê ao luxo de se preocupar, eu sempre me dei bem com a solidão. Mas não com essa solidão que você está acostumada, essa solidão a dois. Por isso não te quero aqui por nem mais um segundo, pra ficar sozinho prefiro eu e minha garrafa de vinho, minhas músicas clichês.
Saia logo antes que eu desmorone, antes que eu não consiga mais esconder as minhas fraquezas, antes que você comece ter pena de mim. Não escondo que já cheguei a ter pena de você, a ter pena do que você faz, mas hoje sinto mais pena de mim. Sinto que sou ainda mais sujo e vulgar do que você, porque prezo o mesmo papel que o seu só que sem receber nada em troca, seja em dinheiro, seja em afeto. Agora que você está indo embora, agora que me deu as costas e fechou a porta sinto o quanto você é maior que eu, o quanto é mais forte. Pois consegue ir embora sem olhar pra trás, sem que haja sempre uma maldita corrente que te amarre aos seus tantos amantes da noite. Eu não, eu não consigo ir embora, eu não consigo sequer me levantar, quanto mais deixar de olhar pra trás. Você pega seu dinheiro e vai embora sem deixar nada de você, sem levar nada dele. Ao contrário de mim, que fico sempre ali, sentado esperando a minha recompensa, talvez quem sabe o mínimo de gratidão, enquanto eu vejo ela que, assim como você, se veste, fecha a porta e se vai sem um beijo de despedida, sem sequer um "Até a próxima vez".
O fato é que a maior diferença entre nós dois é que você se vai, mas se um dia eu voltar a te procurar, você não vai se negar, vai ficar satisifeita, afinal é sinal de que seu trabalho atingiu o objetivo desejado, mas eu não, eu sei que quando ela voltar a me procurar, eu também não vou negá-la, mas não ficarei satisfeito, eu sei que novamente vou ser usado, e vou criar expectativas e esperanças, vou ver mais uma vez ela indo embora e me deixando aqui com esse eterno buraco que nos separa: a razão.

sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

- Carla, eu te conheço há muito tempo... quer fazer o favor de contar o que é que tá te incomodando? O que é que você tem?
- Eu não tenho nada!
- Eu sei que tem!
- O fato é que eu não quero falar, acima de tudo não sei se devo falar, entende?
- Mas você não confia em mim?
- Claro que confio, você sabe que nunca tive uma amiga como você mas acontece...
- Acontece?
- Acontece que eu não sei se estou preparada pra escutar a resposta da pergunta que tá me engasgando... Talvez o que eu tenha pra dizer possa desmoronar tudo... Você ainda acha que eu devo falar?

Longo silêncio

- Vamos fazer um café? Estou com fome...


"Oh meu amigo eu esperei tanto tempo por respostas
e depois de tanto tempo
Ainda havia mais pra esperar..."
Nenhum de nós

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

" Se eu cantar, não chore não
É só poesia"
Ira!




Escuta que o silêncio hoje é maior que as batidas do coração. Fecha os olhos e dorme como se tudo não passasse se não de um sonho, uma história mal contada que não tem fim. Esquece das palavras ditas com raiva na ânsia de que algo fosse feito pra impedir que tudo desmoronasse. Dorme que a paz que nunca encontrastes aqui estás te esperando em sonho, nuvens de algodão doce e asas de anjos.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Noite.

Ele estava dormindo e ela o observava. Nunca tinha feito isso antes e ficou deslumbrada como ele era bonito visto assim, com um ar inocente, o corpo seminu, num emaranhado de lençóis. Naquele momento todas as suas dúvidas haviam sumido. Ela sentia que ali, desprotegido e em meio ao sono, ele era só seu. Ela já não tinha mais dúvida se ele a amava ou não, se ele viria, se ligaria pra ela, se diria aquelas palavras de amor que ela tanto ansiava que ele dissesse. Não precisava. Ela podia quase sentir a sua respiração em harmonia com a dele, num conjunto perfeito. E tentava respirar fazendo o menor barulho possível, se movendo o mínimo necessário pra que ele não acordasse, pra que ela também não saísse daquele transe. Tentou se lembrar de quando foi que ela se tornara tão insegura, onde foi que deixara os medos tomarem conta dela. Logo ela, que sempre se orgulhara da sua personalidade forte, segura, madura. Talvez tudo tivesse sido uma farsa, ou talvez ela não fosse tão forte assim, talvez ela tenha se deixado amolecer. É o tempo amolece a gente, pensava ela. Há algum tempo atrás ela não gostava de demonstrar seus sentimentos, achava que era fraqueza, que se tornaria vulnerável. Talvez fosse isso, ao demonstrar à ele, aquela criatura que dormia lindamente na sua cama, seus sentimentos mais íntimos, ao demonstrar o tamanho do seu amor ela tenha se tornado fraca, vulnerável. Mas será que o amor combinava com a insegurança e o medo? Será que por amar tanto era que sua cabeça estava sempre tão cheia de dúvidas? Quem sabe, respondeu ela à si mesma.
Se o amor fosse, realmente, a causa da sua fraqueza ela estava destinada a se sentir sempre como uma boneca de porcelana frágil e pequena diante de tudo.
Ainda com os olhos pregados nele, ela apagou o cigarro que estava fumando e também o abajur a seu lado, voltou pra cama cuidadosamente e se deitou no peito branco e forte que ele exibia. Estava ali seu maior refúgio. E ela pensou que poderia parar o tempo ali, naquele exato momento.


"O avesso do esforço que eu faço pra ser feliz..."
Leoni

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Descrição

Eu sou qualquer coisa assim como uma brisa do mar, como um arrepio de nervoso ou qualquer outra coisa impossível de ser dita. Sou um vai e vem infinito de emoções e aflições, um carrossel de imaginação, quase como um desenho de criança onde as cores se misturam e se fundem numa valsa de vibrações. Sou um caminhão de medo e insegurança, da eterna dúvida entre o mútuo e o singular, da unimultiplicidade. O querer saber e o saber sem querer na luta que divide o meu eu em duas camadas: a camada que deixo transparecer, a outra que guardo para os que confio. Sou sorrisos e risos incontidos, gritos calados, suspiros abafados, abraços apertados. A corrida pelo perfeito, mesmo sabendo ser este um sonho inalcançável e que Deus mantenha sempre assim. Na busca pelo perfeito sigo sendo imperfeita nessa minha revolução. Uma revolução que parte de mim para mim, que começa com um tiro dado no escuro, que termina na imensidão sem fim. Sou aquilo sem nome, sem número, sem referência, um simples estado entre o ser e o não-ser. A definição incompleta de algo que não pode ser definido, citado ou imaginado.
Sou assim. Qualquer coisa assim.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

Sobre promessas

Por que é que ainda acreditamos nessas falsas promessas? Por que acreditamos em coisas que sabemos que não existem nem nunca existiram? Foi a pergunta que sua amiga lhe fez.
A resposta estava na ponta da língua mas preferiu ignorá-la e responder: Não sei. Mas talvez seja melhor assim.
Talvez seja melhor assim. É isso era inegável, pensava ela. O que a amiga não sabia, ou talvez também ignorava, era que elas acreditavam porque queriam acreditar! As promessas davam à elas uma esperança de final feliz. De que um dia tudo terminaria bem, como nos filmes que elas sempre viam. Davam também o ânimo pra fazerem planos, que poderiam dar certo ou não, mas não importava! Eram os planos, a esperança e as promessas que faziam com que o dia-a-dia tivesse uma meta, um objetivo a ser seguido. O que tirava a vida de uma existência banal.



"É pouco mas é tudo que eu tenho,
tudo que eu posso oferecer!"
Engenheiros do Hawaii

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

Atitude.

Pela janela entrava a luz da noite, fracamente iluminava a sala e o corredor. Ali, em meio à pouca luz estava ela, sentada num canto da sala com uma garrafa de wisky do lado já pela metade. Fora a única bebida alcoólica que sobrara em sua casa e embora não gostasse muito, sentia que ele havia lhe suprido bem a necessidade.
A sua necessidade não era química e sim racional. Sim, racional. Seu maior pecado sempre fora pensar demais, calcular milimetricamente todos os danos e consequências que seus atos poderiam causar. Consequências haviam várias pairando em sua cabeça, mas os atos eram escassos em sua vida.
Porém, agora, depois de meia garrafa de wisky e com o som em volume insurdecedor, ela se sentia incapaz de pensar demais. E estava gostando disso. Podia sentir muito mais do que pensar. Cada nota que saía do som era como uma explosão, um encontro de pele, coração e cérebro. Um conjunto em perfeita harmonia. Ela era agora só impulso. Impulso e coragem.
Se sentiu capaz de fazer qualquer coisa, seus problemas emocionais de repente se tornaram tão insignificantes que ela não saberia explicar. O que ela sabia era que algo precisava ser feito. Não mais esperaria pelo momento perfeito, pelo clima mais romântico ou quiçá pelo dia em que seu horóscopo lhe desejaria maior sorte. As consequências foram esquecidas em algum lugar há bastante tempo atrás e ela não se importara disso. Então, dali do canto da sala, ela avistou seu celular, jogado em cima do sofá. E decidiu que esse era o momento. Se pudesse se descrever naquela noite ela seria nada mais que o Agora.
Se levantou com certa dificuldade do chão e se caminhou para o sofá, se jogou em meio as almofadas enquanto tentava com dificuldade achar o telefone dele na agenda.

-Por que diabos as teclas do celular ficaram tão pequenas e meus dedos tão grandes de repente?

Ainda na luta com o celular ela se virou de lado no sofá e se ajeitou melhor. Outra luta era travada ali agora, não mais com o celular mas com o sono anormal causado pelo álcool, mas contra o sono, ela decidira não lutar, sabia que ele era mais forte e então se rendeu. O telefone caiu de suas mãos e foi ao chão, mas não só ele como também a necessidade de atitude e reação que gritavam incessantemente dentro dela.



"A razão é como uma equação
De matemática, tira a prática
De sermos, um pouco mais de nós!"
O teatro mágico

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

O meio e o fim!

Seria muito estranho, você terá que concordar, se na primeira página de um livro você encontrasse o seguinte texto:Este livro, ao contrário do que se espera, não começa pelas primeiras páginas, por favor inicie sua leitura pela pág. 104.
Do mesmo modo como acho muito estranho a idéia de assistência social dada por esses programas televisivos. Eles pegam uma família carente e daí, a "assistência" dada varia de programa à programa de emissora à emissora. Como se a vida dessas pessoas fossem mudar radicalmente e, o que é mais importante, pra sempre, porque ganharam um carro novo, porque a casa foi totalmente reformada ou porque eles ganharam alguns mil reais. Essas coisas todas se vão... e depois? O que sobrou pra essas famílias? O carro novo foi roubado, a casa nova não vai ajudar o pai de família arrumar um emprego e os mil reais... eles se acabam! E, mesmo depois da ajuda desses programas à essa pessoas, elas continuam na mesma situação de sempre!
Estranho, também, como a idéia de cotas nas universidades. Como se reservar algumas vagas para pessoas de escola públicas ou para negros os tornassem mais aptos à entrarem em um curso superior. Não é porque venho de uma escola particular que digo isso, digo com a justificativa de que colocar jovens despreparados dentro das universidades não vai acabar com a disparidade que sempre houve entre alunos de escolas particulares e públicas. O máximo que conseguiremos serão turmas universitárias totalmente heterogêneas, onde metade dos alunos possuem um alto nível de instrução e outros não.
O estranho no livro, na idéia de assistência social dos programas televisivos e nas cotas das universidades é a desordem com que as coisas acontecem. O querer sempre o caminho mais curto e com resultados imediatos. Imediatos talvez, mas não os melhores.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

Do lado de fora era só chuva.
O tempo atrapalhava todos e quaisquer planos que tivera, mas mesmo assim não conseguia odiar aquele clima chuvoso e frio.
Sabia que o momento era de calma e serenidade.
Quase dava pra sentir a paz emanando por todos os lados da casa.
Lembrou-se das férias já passadas, lembrou-se dos que deixaram apenas saudades, dos dias, diferentemente daquele, ensolarados, das tardes passadas sem qualquer preocupação.
E viu então mais um gota cair.
Ela não vinha do lado de fora e sim de dentro, de um lugar que ela fazia questão de manter bem guardado, intacto.
Aquela gota, sabia, não era de tristeza.
Abriu um largo sorriso e deixou que a chuva continuasse do lado de fora, serena como há tantos dias.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

O tal do carnaval.

Enfim é carnaval!
A época pela qual o Brasil vive o ano inteiro em função dela.
Com euforia demais, animação demais, álcool demais e, é claro, bundas demais.
O carnaval, o axé, a animação, tudo muito justificável, mas e as bundas? E os peitos?
Com tamanha a criatividade brasileira me recuso a acreditar que o carnaval só se torna interessante pela quantidade de vulgaridade.
Ontem parei uns instantes pra ver TV e lá estava ela, com bolotas que brilhavam tampando os bicos dos seios e a parte genital, ou seja, pelada!
Ainda me pergunto o por quê da existência da Globeleza.
Ainda me pergunto o por quê das bolotas brilhantes.

Do jeito que vai, não me assustaria se daqui há alguns anos os principais ornamentos das mulheres nos desfiles de carnaval sejam os adornos na cabeça e as sandálias.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Vento, ventania

Ela olhava pra janela...
Já era a décima vez, ou talvez mais, que ela fazia o mesmo movimento: levantava do sofá, se dirigia à janela, olhava pra rua deserta como à procura de algo, virava-se com cara de desapontamento e sentava-se de novo no sofá com o olho vidrado na TV que passava qualquer coisa que ela não saberia dizer.

Qualquer um poderia tentar achar uma explicação racional praquilo. Mas ela não.
O que ela estava esperando não tinha horário marcado e nem tinha previsão de chegada, se um dia chegasse.
O que ela esperava não era uma pessoa, muito menos um acontecimento, era algo mais parecido com um suspiro ou uma brisa leve, quase imperceptível a qualquer um, porém essencial naquele momento.
Ela se lembrou de quando, um dia, tinha deixado as janelas abertas e tinha sentido a brisa leve da manhã entrando na sala, quarto, pulmões e coração. Mas se lembrou também de que nesse dia a tarde não tinha sido tão amiga quanto a manhã. Diferemente da manhã, a tarde não trouxera com ela uma brisa leve, mas sim um vendaval, que destruíra tudo, deixando móveis, objetos, livros e tudo mais jogados pelo chão.
Pacientemente ela se dirigiu pras janelas e fechou todas elas. Depois tratou de arrumar aquela bagunça. A cada objeto colocado no lugar, a cada móvel arrumado, ela se sentia mais desgostosa.
Como é que uma brisa se transformara numa ventania?
Como era possível que algo tão sublime fosse o início de algo tão destruidor?

Agora, com tudo no lugar, ela corre pra janela a cada manhã e tarde.
Espera, inutilmente, descobrir ali, através dos vidros, o que separa o sensível do grotesco.
Mas ela não consegue ver a brisa passar, muito menos a violência do vento.
Ela há muito entendera que não conseguiria ver nada, nunca. A não ser que abrisse de novo as janelas, não para ver, mas para sentir. Mas as janelas continuavam ali, intactas, do mesmo modo como foram deixadas desde a ultima vez em que foram fechadas.
Talvez não lhe faltasse coragem, e sim lhe sobrasse fraqueza.


"Pode até parecer fraqueza, pois que seja fraqueza intão..."
Lulu Santos



sábado, 26 de janeiro de 2008

Tempo, tempo, tempo...

Tic-tac
Tic-tac
Tic-tac
Tic-tac

O olhar desesperado de quem tenta inutilmente segurar os ponteiros do relógio e impedir que o inevitável aconteça.


Um a mais, ou melhor, um a menos!

quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

Cor de jaboticaba!

Talvez ela quisesse que daquele dia em diante tudo fosse diferente.
Talvez ela ainda tentasse se convencer de que os acontecimentos do mundo são alheios à sua vontade.
Talvez, hoje, e só por hoje, ela quisesse enxergar tudo mais bonito.
Esquecer das dores, das angústias, dos compromisos, das chateações, dos medos...
Talvez ela quisesse esquecer do tempo e ficar ali, parada, imóvel, com os pensamentos vagos, a mente vazia, a brisa soprando, as estrelas brilhando.
Talvez ela simplesmente não conseguisse ver mais nada a não ser aqueles olhos.
Aqueles olhos negros cor de jaboticaba que ela já não era mais dona, que ela não sabia por onde andavam, nem pra quem olhavam.
Aqueles olhos que faziam o tempo parar e que, agora, ofuscam sua visão, embaralham sua mente e confundem suas emoções.
Quem sabe por isso, o céu hoje está sem estrelas e a brisa noturna se esqueceu de passar por aqui.
Quem sabe por isso seus pensamentos não estão vagos, longe disso.
E quem sabe, muito longe mesmo!

sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

Tem algo que me persegue, algo que não quer me largar.
Algo que não vem de 2007 e não surgiu com 2008.
Algo anacrônico e independente de qualquer situação.
É a sensação de estar sem lugar, sem rumo, sem direção, sem abrigo.
É a vontade de se esconder sempre que algo novo chega.
É a resistência à grandes mudanças.
É o ter pensando em perder.
É o não querer por antecipação.
É o sofrimento justo e sem causa.
É algo com que já lutei, algo que fiz adormecer, mas que ainda é latente.
Aquilo que não dá pra fingir que não existe, porque mesmo ultrapassado uma vez, ele sempre estará ali, outras e outras vezes, te lembrando o que, simplesmente, não dá pra esquecer.

Algo que nomeei MEDO.

" Medo de olhar no fundo
Medo de dobrar a esquina
Medo de ficar no escuro
De passar em branco, de cruzar a linha
Medo de se achar sozinho
De perder a rédea, a pose e o prumo
Medo de pedir arrego, medo de vagar sem rumo

Medo estampado na cara ou escondido no porão
O medo circulando nas veias
Ou em rota de colisão
O medo é do Deus ou do demo
É ordem ou é confusão
O medo é medonho, o medo domina
O medo é a medida da indecisão"
Lenine

quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

Um ano novo com cara de velho.
Pelo menos assim me parece.
A sensação de que 2008 está, pelo menos até agora, sendo um alongamento de 2007.
O semestre ainda inacabado, trabalhos, provas...
Será que seria pleonasmo eu dizer que quero férias?

Mesmo assim, como todo começo de ano, eu tenhu a esperança de que esse ano seja mil vezes melhor que o passado e muito pior que 2009.
E, também como todo ano, meu único pedido é que esse ano passe o mais devagar possível.
Pra que cada momento especial possa durar o bastante pra se tornar eterno!

E daí que parece romântico e sonhador demais?
Não espero que ninguém entenda o meu pedido.
Mas faço aqui um brinde ao novo ano que se segue e, também, um brinde à todos que passaram a ocupar um lugar especial na minha vida em 2007 e desejo, profundamente, que continuem por muito e muito tempo nela!

"please stay for a while now
just take your time
where ever you go"