segunda-feira, 26 de julho de 2010

Vento, ventania

Ela olhava pra janela. Já era a décima vez, ou talvez mais, que ela fazia o mesmo movimento: levantava do sofá, se dirigia à janela, olhava pra rua deserta como à procura de algo, virava-se com cara de desapontamento e sentava-se de novo no sofá com o olho vidrado na TV que passava qualquer coisa que ela não saberia dizer.

Qualquer um poderia tentar achar uma explicação racional praquilo. Mas ela não. O que ela estava esperando não tinha horário marcado e nem tinha previsão de chegada, se um dia chegasse. O que ela esperava não era uma pessoa, muito menos um acontecimento, era algo mais parecido com um suspiro ou uma brisa leve, quase imperceptível a qualquer um, porém essencial naquele momento.

Ela se lembrou de quando, um dia, tinha deixado as janelas abertas e tinha sentido a brisa leve da manhã entrando na sala, quarto, pulmões e coração. Mas se lembrou também de que nesse dia a tarde não tinha sido tão amiga quanto a manhã. Diferemente da manhã, a tarde não trouxera com ela uma brisa leve, mas sim um vendaval, que destruíra tudo, deixando móveis, objetos, livros e tudo mais jogados pelo chão. Pacientemente ela se dirigiu pras janelas e fechou todas elas. Depois tratou de arrumar aquela bagunça. A cada objeto colocado no lugar, a cada móvel arrumado, ela se sentia mais desgostosa. Como é que uma brisa se transformara numa ventania? Como era possível que algo tão sublime fosse o início de algo tão destruidor?

Agora, com tudo no lugar, ela corre pra janela a cada manhã e tarde. Espera, inutilmente, descobrir ali, através dos vidros, o que separa o sensível do grotesco. Mas ela não consegue ver a brisa passar, muito menos a violência do vento. Ela há muito entendera que não conseguiria ver nada, nunca. A não ser que abrisse de novo as janelas, não para ver, mas para sentir. Mas as janelas continuavam ali, intactas, do mesmo modo como foram deixadas desde a ultima vez em que foram fechadas. Talvez não lhe faltasse coragem, e sim lhe sobrasse fraqueza.


"Pode até parecer fraqueza, pois que seja fraqueza então..."
Lulu Santos

sábado, 10 de julho de 2010

O dia da ressaca moral.




Maysa, Amy Winehouse, Lindsay Lohan, Britney Spears e eu.
Todas com o mal do surto súbito e da embriaguez desenfreada. Sobre o dia em que o meu nome é só amanhã.

terça-feira, 6 de julho de 2010

Ritmo.

O samba hoje me bateu mais forte, bateu no fundo, doeu na alma. O choro do cavaquinho comoveu o espírito, fez da rotina, reza. Hoje juro que as lágrimas da noite anterior foram únicas, inúteis. O sol hoje nasce mais cedo pra dizer que as lágrimas derramadas ontem sem pensar, foram guardadas com carinho, numa caixa de tristezas. A caixa do samba. O samba que tanto me emociona.
Vamos guardar o choro, o cavaquinho e a canção. Vamos guardar a mágoa, a tristeza, a comoção. Vamos guardar nós mesmos na esperança de um dia sermos muito mais que isso. Muito mais que samba. Muito mais que saudade.