segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

O outro lado da sala

Estava ali, sentado do outro lado da sala e ficava me olhando de canto de olho. Quando não via, eu o encarava e ficava pensando em mil e um assuntos que pudéssemos ter em comum. Então eu passava do lado dele, e ele continuava me olhando. Talvez pedindo um sorriso, um "Oi. Tudo bem?", ou qualquer coisa normal que qualquer outra pessoa normal faria. Mas, eu em toda a minha sensualidade, abaixava a cabeça e fingia que não via. Bela atuação, senhora do charme e da conquista. Você, essa boca enorme e sua falta de vergonha com tudo que não deveria, se torna em um minuto uma menina de 12 anos assustada em não saber o que fazer quando alguém está jogando charme pra cima de você.

Talvez eu devesse passar lá do lado agora e jogar um sorriso. É, e depois disso ele vai ter a certeza que eu sou ou louca, ou totalmente bipolar. E você, menino do outro lado da sala de topete loiro, talvez pudesse dar uma maozinha nesse desastre de sedução que sou eu. Talvez você pudesse puxar o assunto qualquer dia desses nos intervalos, na fila do café. Talvez você dê sorte e o tempo esteja ruim, assim poderemos nos lamentar de como a chuva é chata, de como são pedro é injusto. Talvez depois disso eu fale do dia em que te encontrei na boate e quem sabe você me diga que vai lá semana que vem. Mas enquanto isso, eu vou te olhando mais um pouquinho, enquanto você me acha mais estranha a cada dia. Não é que eu seja estranha. É só que eu não sei o que fazer quando o novo me chama a atenção.

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Ao velhinho do Natal

Querido Papai Noel, eu sei que já é um pouco tarde pra fazer o meu pedido, mas como eu sei que o senhor sempre atende a todos os pedidos, resolvi me dar essa chance. Antes de dizer o que eu quero nesse natal, gostaria de dizer que eu não fui uma boa menina esse ano. Não me comportei direito, não me alimentei direito mais da metade do ano, fui teimosa em quase todos os meus atos e mesmo assim quase nunca assumi meus erros. Fiz um monte de besteiras e machuquei muitas pessoas, a maioria das feridas que deixei, o tempo se responsabilizou de curar. Bom, mas como tudo que vai um dia volta, eu não seria excessão. Eu paguei por tudo que eu fiz e por todas as decisões que eu tomei. E é isso que me faz, com toda humildade escrever essa carta. Noel, eu acredito que você possa trazer nesse seu trenó cheio de presentes, um pouco de luz e paz pra cada lar, pra cada coração. Então é isso. Eu não quero presentes, não quero dinheiro. Eu quero paz. Quero que nesse natal você seja capaz de trazer a minha paz, pra que em 2011 eu não seja um furacão destruidor, como sempre fui. Que a paz seja o suficiente pra que eu não seja de novo destruição pra alguém, e nem pra mim mesma.

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Tô com saudades do peso da mochila nas costas, do mapa na mão. De dormir em aeroporto, em hostel bizarro. To com saudade das pessoas que deixei pra trás com o coração na mão e uma promessa de volta. To com saudades do resto do mundo.

E se Papai Noel pode existir, e mais, se ele pode nos dar o que desejamos de natal, esse natal eu peço que me transforme em milhares, pra que eu possa matar a saudade que eu sinto de cada canto.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Convencibilidade

E se fosse verdade? Bem, precisamos assumir que não seria assim lá uma novidade. Não é o tipo de coisa que você nunca imaginaria. Aliás, pra te falar a verdade é uma coisa que eu sempre imaginei. Mas é que a gente sempre arruma desculpas pra poder provar o contrário, pra dizer que não é verdade e que no fundo tudo não passa de um mal entendido. Besteira! Qualquer dia desses você ainda se pega desolada, com a mentira nas mãos, sem saber o que fazer com ela e com o que ela fez dentro de você. Então, a farsa que você criou pra se convencer caiu e sobra você, com a sua cara de tacho e seu discurso de vitoriosa sobre a situação.
De certo modo, seria um jeito mais curto de mudar de rumo, de começar novas histórias, de me reinventar. Mas não vou mentir e dizer que isso não me incomoda. Pra falar a verdade sempre achei tão absurdo e ao mesmo tempo tão coerente.
É a explicação pra tudo aquilo que nunca fez sentido, mas ao mesmo tempo é frustrante demais pra me convencer fácil assim.
Não sei, mas tenho a impressão que quanto mais eu penso, mais eu me convenço e mais eu quero negar. Acho que eu nunca vou perder essa incrível capacidade de me fazer sempre dois extremos.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Tira tudo. Tira a blusa, o short e o tênis. Tira a máscara e essa capa que você carrega pra se proteger. Fique nú e de alma aberta pra que o mundo possa te enxergar, pra você poder ser mais do que é hoje, mais feliz e realizado. Pra que possa sair por aí mostrando o que tem de mais belo e também de mais escabroso. Eu quero ver os seus defeitos tão profundamente quanto você os sente agora. Quero ver também a beleza que você não transparece.
Isso, chega mais perto. feche o olho e sinta a liberdade.
Sinta como é viver aqui do lado de fora.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Sobre impotência.

Eu poderia citar pra você um milhão de razões, mas nenhuma que fosse convincente o suficiente. Eu poderia tentar convencer todos a minha volta, sabendo que não convenceria ninguém. Eu poderia gritar, espernear, acender velas, pedir aos anjos, cantar canções de amor até a voz sumir, chorar até dormir. Eu poderia continuar escrevendo aqui textos que nunca levam a nada e que talvez ninguém nunca entenda a razão deles serem escritos.
Eu poderia fazer tudo e ser tudo.

E mesmo assim não mudaria nada.

"Another shot of whisky,
can't stop looking at the door.
Wishing you'd come sweeping
in the way you did before."

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Já tive muitos critérios, hoje só vários delírios

“Eu nunca fui uma moça bem-comportada.
Pudera, nunca tive vocação pra alegria tímida,
pra paixão sem orgasmos múltiplos
ou pro amor mal resolvido sem soluços
Eu quero da vida o que ela tem de cru e de belo.
Não estou aqui pra que gostem de mim.
Estou aqui pra aprender a gostar de cada detalhe que tenho.
E pra seduzir somente o que me acrescenta.
Adoro a poesia e gosto de descascá-la até a fratura exposta da palavra.
A palavra é meu inferno e minha paz.
Sou dramática, intensa, transitória e tenho uma alegria em mim que me deixa exausta.
Eu sei sorrir com os olhos e gargalhar com o corpo todo.
Sei chorar toda encolhida abraçando as pernas.
Por isso, não me venha com meios-termos, com mais ou menos ou qualquer coisa.
Venha a mim com corpo, alma, vísceras, tripas e falta de ar...
Eu acredito é em suspiros,
mãos massageando o peito ofegante de saudades intermináveis,
em alegrias explosivas,
em olhares faiscantes,
em sorrisos com os olhos,
em abraços que trazem pra vida da gente.
Acredito em coisas sinceramente compartilhadas.
Em gente que fala tocando no outro, de alguma forma,
no toque mesmo, na voz, ou no conteúdo.
Eu acredito em profundidades.
E tenho medo de altura,
mas não evito meus abismos: são eles que me dão a dimensão do que sou"
Maria de Queiroz

sábado, 20 de novembro de 2010

Eu sei que você tentou se esforçar ao máximo e eu sei que você já é bem grandinho. Mas eu não. Eu ainda continuo sendo uma menina mimada que não suporta ouvir um não. E é difícil de aceitar quando o sim é inalcançável, dá vontade de virar o mundo de cabeça pra baixo, de sacudir tudo até que tudo fique do jeito perfeito. Só que não existe uma porta mágica pela qual se entra e a partir dali tudo está no lugar que deveria. E eu sei disso. Mas ainda sim continuo tentando construí-la.
Continuo porque me culpo em estar nessa agonia agora, porque sei que se eu quisesse poderia ter sido diferente. Se você teve culpa antes, eu também tive agora, e isso me corrói por dentro. Saber que estava tudo nas minhas mãos e escorreu, como água que nunca mais volta.

Mas, como você mesmo concordou, não há nada que eu possa fazer pra que você enxergue o que eu vejo agora. Então eu vou ficar aqui, brigando comigo mesma por ser tão teimosa e por ser esse furacão que nunca consegue manter nada intacto e calmo por mais que algumas horas.

"Yes, I'd rather hurt than feel nothing at all."
Lady Antebellum

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Desencontros

Faz dias que minha cabeça tá borbulhando de vontade de escrever qualquer coisa pra tirar esse nó que entalou na minha garganta, mas a cada vez que penso em começar alguma coisa é como se qualquer palavra fosse inútil o bastante pra me fazer desistir. E então suspiro fundo e fecho a página.
Não é que eu não saiba o que quero falar, mas é que o que tá aqui dentro me agonia demais. Sim, eu sempre disse que você era um louco confuso, mas a verdade é que nós não somos diferentes, eu também sou uma louca perdida no mundo que acorda a cada dia com uma vontade diferente. E você sempre foi e ainda é uma das minhas vontades loucas, assim como eu sou pra você também.
Só que nós nunca conseguimos nos entender ou sincronizar as nossas vontades, quando eu não te quero, você me olha com olhar doce e diz que gosta de mim, mas é só eu te querer e você sai correndo me deixando aqui com toda a minha intensidade transbordando poros a fora.
Nós somos dois perdidos nesse mundo de encontros e desencontros, só que o problema é que nós, nunca conseguimos nos encontrar de verdade.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

"Foco no lugar vazio da mesa. A pessoa que não veio. Pior ainda: a que não existe. É ali que fico, sempre, apaixonada, doendo, esperando. O lugar vazio da mesa, da cama, do planeta. Minha sorte é um bilhete desses de raspar só que o segredo não sai com nada. Meu amor é a cadeira com pé quebrado que tiraram do salão antes que alguém se machucasse. Então me recuso a sentar em outras e vivo entre o cansaço e o medo de cair de mim mesma."
Tati Bernardi

Por que eu não conseguiria descrever melhor.

sábado, 23 de outubro de 2010

Let it go!

Sem posts, sem palavras, sem inspiração.
Sem vontade de escrever sobre as mesmas coisas, OVER AND OVER AGAIN.

To cansada, to sem forças. Mas preciso achá-las em algum lugar. O caminho é longo e ficar parada já me consumiu tempo demais.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Agonia.

Se é certo que quem ama aceita os defeitos do outro, tenho que dizer: Não, eu definitivamente não te amo. Ouvi dizer que há uma linha tênue entre o amor e o ódio e quando se trata da minha impaciência com todos os seus defeitos posso afirmar que vivo pendendo de um lado pro outro dessa linha tênue, sempre me desequilibrando, sempre querendo cair pra um lado, mas sem nunca tomar nenhum partido.
Entenda, não é que eu queira te odiar (muito menos te amar), até porque nada disso é questão de querer, mas é que eu já não aguento mais ver você sofrendo sempre com os mesmos problemas, sempre nessa sua confusão interna de indecisões e mistérios. E esse sofrimento mudo é o que mais me incomoda porque eu gosto de quem se expressa, eu gosto de me expressar de todas as maneiras possíveis para que eu possa exteriorizar quem eu sou e o que eu espero das outras pessoas.
Você consegue sentir isso? Será que consegue sentir toda a pressão que eu coloco em você a cada vez que eu não consigo entender as suas ações injustificáveis? Será que é por isso que foge toda vez que eu te olho mais fundo? O que é que você esconde ai dentro? Do que é que tem tanto medo?
É incrível como você ainda me incomoda e, sinceramente, acho que ainda morro nessa agonia e com a esperança de um dia escutar de você a resposta pra todas essas perguntas.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

A hora.

Esses dias acordei e senti uma pontada no peito, uma fadiga, um medo. Deu vontade de chorar e de gritar. Deu vontade de sair correndo, de fugir pra qualquer lugar distante. Deu vontade de fazer algo novo, de conhecer algo novo. De sentir o frio na barriga do desconhecido. Deu vontade de ser mais.
É nesses dias que você resolve pintar o cabelo de vermelho e as unhas de amarelo fluorescente, que você põe a melhor roupa pra ir na esquina comprar pão, que você resolve beber pra não ter vergonha no outro dia. É nesses dias que você resolve largar aquele curso chato que tomava todo seu dinheiro à toa, que diz praquele chato do seu trabalho que as piadinhas dele são horrorosas.
Pra alguns a causa disso é TPM, stress ou loucura momentânea.
Mas é nesse momento que você sabe: é a vida batendo na sua porta e dizendo que você precisa agir. É toda a coragem necessária pra tudo aquilo que você promete a cada virada de ano: Mudança.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Inferno.

"E é isso. Agora é suspirar feito besta, meus celulares e e-mails e o ar voltam a ser objetos de tortura, sempre a espera da próxima vez que você vai me pedir que morda o violão pra escutar a música dentro do cérebro. E você desafinando e meu cérebro consertando tudo dentro da minha imaginação. Não é amor porque amor é mais do que essa escravidão estética. Não é paixão porque eu só me apaixono por quem eu quero destruir e eu só quero limpar com uma palhinha de ouro seu corpo num pedestal. Não é só tesão, porque eu passaria o resto da minha existência fazendo carinho nos cachos do seu cabelo e você com 18 metros de altura parecendo um menino. Não é nada dessas coisas todas que a gente separa numa caixinha da mente pra continuar arrumando o resto das gavetas da vida. Então o quê?"
(Tati Bernardi)

É o inferno!

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Próximo.

O sol começava a bater forte na sua janela lhe avisando que mais um dia havia chegado. Havia tanto tempo que ela estava ali sentada que já perdera a noção do tempo. Não saberia nem dizer se esse era o primeiro nascer do sol que avistava depois em que se ajeitou naquela posição. De tempos em tempos ela adormecia e sonhava sempre com as mesmas coisas, então acordava ofegante e frustada a testa suando, o coração aos pulos, o estômago revirado. Abria os olhos e passava a contemplar de novo a paisagem, o movimento da praça que ficava em frente ao seu prédio. Nada diferente das coisas de sempre, crianças brincando e gritando de manhã, casais de idosos passeando pela tarde. Parecia que o mundo gozava do seu estado de espírito.
Ela queria olhar pra fora e ver um dia cinza e chuvoso, daqueles que causam tempestades e desastres, que deixam cidades no escuro, que assustam os mais amedrontados. Ela queria sentir tudo na pele, na mais absurda dor. Fazia horas que estava se perguntando as mesmas coisas, que tentava encaixar os mais absurdos acontecimentos tentando encontrar entre eles alguma ligação que pudesse lhe dizer o que havia de errado. Mas nada fazia sentido. Era fato, o destino resolvera brincar com a vida de alguém. A dela, infelizmente, era um círculo vicioso de problemas que sempre se revelavam os mesmos, por mais que fossem imperceptíveis no começo, passado um tempo era sempre a mesma coisa, a mesma dor, a mesma desculpa, o mesmo sofrimento, o mesmo sofá, a mesma janela, a mesma praça.
Ela queria ter forças pra sair lá fora a amaldiçoar o vento, a sorte, o amor e o destino. Ela queria correr e gritar aos quatro cantos a sua revolta e a sua dor. Mas forças era tudo que ela não tinha naquele momento. Talvez se ela lutasse um pouco mais, se seguisse aquelas lições que leu naqueles livros de auto-ajuda que sua mãe lhe dera e que estão empoeirando na prateleira. Faltava-lhe forças e lhe sobrava medo. Era um medo sem medidas de não suportar a dor de mais um fracasso, de ter que superar tudo de novo. Ela não suportaria.
O sol já estava baixo de novo, aquele casal de velhinhos da esquina passava de volta pra casa, sempre tão fofos. Talvez fosse melhor fechar os olhos e esperar o próximo nascer do sol.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Troca.

Ei, escuta. Você não precisa mentir pra mim e dizer mais um monte de besteiras sem sentido. Eu já estive no seu lugar, já dei as mesmas desculpas, nas mesmas ocasiões. Eu pensei que você tivesse entendido que eu sou diferente, que eu não quero te pressionar e nem te levar pro altar. Não quero que você me deva desculpas ou satisfações, quero só que seja honesto. Não pense que eu me deixei enganar por você e esse seu sorriso lerdo de canto de boca que me faz derreter inteira, não pense que por esse seu charme e perfume hipnotizante eu perdi a cabeça e deixei de lado tudo que aprendi. Eu também sabia que você só queria se aproveitar de alguns momentos legais e então por que não juntar duas pessoas que se dão bem? Sim, eu me vendi sabendo que estava sendo vendida. E por isso, a negociação passou a ser outra: a da troca e não venda. Só que você ficou com medo dessa troca, medo de que isso pudesse afetar a sua liberdade com tanto custo conseguida. Você ficou com medo de que eu pudesse pirar, enlouquecer aos seus pés. Oh, santa ingenuidade! Você, menino, pode ter muitas qualidades, mas precisa muito mais que isso e muito menos medo pra me fazer mudar de rumo. Infelizmente, vamos ter que parar por aqui. Vamos arrumar outros para passar o tempo, pra conversar besteiras, até que a gente esqueça de como nós somos bons juntos, de como é gostoso. E daí, já não vai fazer mais diferença, porque prazer por prazer, ah, isso meu bem, a gente encontra aos montes.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Conflito

Sim, eu entrei em conflito com tudo aquilo que havia dito antes. Sim, eu me traí e traí também aquele ideal que venho defendendo há tanto tempo. Infelizmente essa não é a primeira vez e nem vai ser a última delas, muito menos a mais doída. O difícil vai ser conseguir lidar com tudo isso sem perder a cabeça de novo, sem cometer os mesmos erros de antes.
Não, não me deixe mais confusa e também não venha me perguntar pela milésima vez porque comecei a agir assim. Talvez no fundo eu soubesse o resultado dessa bagunça toda e quis simplesmente ignorar, ou talvez eu seja mesmo ingênua a esse ponto.
Ingênua ou não, o fato é que agora eu tenho uma vontade enorme aqui dentro que cresce a cada segundo e eu não consigo lidar com ela e nem com essa minha falta de paciência com a vida e com os acontecimentos que insistem em ocorrer no sentido normal e no instante certo e não na hora e no momento em que eu quero, ou seja: o agora.
É eu sei, eu sempre tive dificuldades com o passado e o futuro. Você sempre me dizia sobre a minha necessidade compulsiva de viver o agora pra sempre. Da minha afobação de querer tudo ao mesmo tempo. Você sempre esteve certo e eu acho que é por isso que sempre vivo em conflito, sempre me traindo. Assim como agora.
Andei pensando se teria coragem de renunciar à algumas coisas em prol de outras. Sinceramente, não sei. Me sinto tão antagônica nesse conflito de interesses que não consigo ao menos dizer o que quero mais.
Então venha me resgatar desse buraco sem fundo, estenda a sua mão e me diga o que você quer e assim, quem sabe, minha agonia acabe.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Maré.

Nós tínhamos o mesmo gênio e o mesmo modo de enfrentar as loucuras da vida. Tínhamos o mesmo gosto por filmes estranhos e comédias toscas. Até aquele álbum desconhecido daquela banda mais desconhecida ainda era o nosso preferido. E então? Onde foi que nos tornamos tão diferentes?? Aonde foi que perdemos a nossa conexão que era tão intensa e gostosa?

Enquanto eu falava um monte de coisas desconexas e emendava um assunto no outro daquela minha forma descontrolada de conversar eu via aquela sua mesma expressão de quem acha graça e até um pouco fofo. E então sua expressão foi mudando ao mesmo tempo que eu mudava o rumo da minha conversa até o ponto em que sua expressão era irreconhecível. E eu me escutava falando de longe e era como se não fosse eu, como se aquele tanto de sinceridade fosse demais e até um pouco cruel. Mas até que ponto mentir pra mim e pra você seria válido pra manter uma coisa que há muito não existia mais? Até que ponto existimos de verdade e até que ponto inventamos uma relação insustentável?

Para de me olhar como se eu fosse louca. Você nunca entendeu e receio que nunca vai entender as cartas que já te escrevi. O fato é que talvez eu esteja enganada sim, mas e daí? Eu cansei de tentar, cansei de me estressar sempre pelas mesmas coisas. Então, faça um pacto comigo de descompromisso. Vamos manter tudo nessa maresia de loucura e impulso e quem sabe um dia a maré não nos aproxima ou nos afasta de vez?

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Vento, ventania

Ela olhava pra janela. Já era a décima vez, ou talvez mais, que ela fazia o mesmo movimento: levantava do sofá, se dirigia à janela, olhava pra rua deserta como à procura de algo, virava-se com cara de desapontamento e sentava-se de novo no sofá com o olho vidrado na TV que passava qualquer coisa que ela não saberia dizer.

Qualquer um poderia tentar achar uma explicação racional praquilo. Mas ela não. O que ela estava esperando não tinha horário marcado e nem tinha previsão de chegada, se um dia chegasse. O que ela esperava não era uma pessoa, muito menos um acontecimento, era algo mais parecido com um suspiro ou uma brisa leve, quase imperceptível a qualquer um, porém essencial naquele momento.

Ela se lembrou de quando, um dia, tinha deixado as janelas abertas e tinha sentido a brisa leve da manhã entrando na sala, quarto, pulmões e coração. Mas se lembrou também de que nesse dia a tarde não tinha sido tão amiga quanto a manhã. Diferemente da manhã, a tarde não trouxera com ela uma brisa leve, mas sim um vendaval, que destruíra tudo, deixando móveis, objetos, livros e tudo mais jogados pelo chão. Pacientemente ela se dirigiu pras janelas e fechou todas elas. Depois tratou de arrumar aquela bagunça. A cada objeto colocado no lugar, a cada móvel arrumado, ela se sentia mais desgostosa. Como é que uma brisa se transformara numa ventania? Como era possível que algo tão sublime fosse o início de algo tão destruidor?

Agora, com tudo no lugar, ela corre pra janela a cada manhã e tarde. Espera, inutilmente, descobrir ali, através dos vidros, o que separa o sensível do grotesco. Mas ela não consegue ver a brisa passar, muito menos a violência do vento. Ela há muito entendera que não conseguiria ver nada, nunca. A não ser que abrisse de novo as janelas, não para ver, mas para sentir. Mas as janelas continuavam ali, intactas, do mesmo modo como foram deixadas desde a ultima vez em que foram fechadas. Talvez não lhe faltasse coragem, e sim lhe sobrasse fraqueza.


"Pode até parecer fraqueza, pois que seja fraqueza então..."
Lulu Santos

sábado, 10 de julho de 2010

O dia da ressaca moral.




Maysa, Amy Winehouse, Lindsay Lohan, Britney Spears e eu.
Todas com o mal do surto súbito e da embriaguez desenfreada. Sobre o dia em que o meu nome é só amanhã.

terça-feira, 6 de julho de 2010

Ritmo.

O samba hoje me bateu mais forte, bateu no fundo, doeu na alma. O choro do cavaquinho comoveu o espírito, fez da rotina, reza. Hoje juro que as lágrimas da noite anterior foram únicas, inúteis. O sol hoje nasce mais cedo pra dizer que as lágrimas derramadas ontem sem pensar, foram guardadas com carinho, numa caixa de tristezas. A caixa do samba. O samba que tanto me emociona.
Vamos guardar o choro, o cavaquinho e a canção. Vamos guardar a mágoa, a tristeza, a comoção. Vamos guardar nós mesmos na esperança de um dia sermos muito mais que isso. Muito mais que samba. Muito mais que saudade.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Stop.

Sim, já foram noites e noites acordada esperando aquela ligação, aquele abraço, aquele sorriso, aquela frase dita com o tom certo, no momento certo. As vezes é preciso muito mais que a ansiedade, o querer e o demonstrar. Talvez querer menos, demonstrar mais. Talvez simplesmente chutar o balde e tudo o que ele representa. Parar de se reprimir por todos esses medos bobos que nos atormentam a cada manhã quando a noite anterior nos envergonham. Quando a vergonha é dada pela falta de coragem, sem eufemismos e hipocrisia, pela fraqueza e covardia.

Então amanhã, quando o sol estiver alto, lavando o seu rosto de vergonha e covardia, você jura que aquele nascer do sol representa um novo começo. Até o outro dia, e o outro, e o outro. Todos são um novo começo, que realmente nunca começou.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Sempre o mesmo.

O processo é quase sempre o mesmo, o que muda são somente as pessoas, os rostos pintados uniformemente dentro de um sonho confuso e estranho. E depois quando você acorda com o travesseiro babado e um sorriso mole no rosto, pede incansavelmente pra voltar, pra ser levada de volta pra terra de Morfeu onde tudo estava do exato modo que deveria ser.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Aperta o play.

"Muito pra mim é tão pouco
E pouco eu não quero mais
Pouco eu não quero mais.
Pouco eu não quero mais.
"
Maria Rita


Não, me desculpe mas eu não quero ouvir mais nada o que você tem a dizer e isso não é mais um dos meus atos de ignorância e petulância. O caso é que você me foi útil por um tempo, nós nos usamos para passar o tempo naqueles dias quentes em que o vento soprava morno e a falta de imaginação era grande demais para discutirmos assuntos maiores. Nós nos usamos também em dias frios em que a preguiça era grande demais pra sair debaixo do edredon, pra mandar parar o filme. Mas eu cansei de ver o filme, cansei de apertar o pause a cada vez que você sentia medo demais de ver qual era a próxima cena. Quero aumentar a velocidade desse drama monótono, quero transformar isso tudo numa comédia/ação/ficção e no que mais for possível. Mas nesse elenco você não foi escalado. Infelizmente o roteiro é grande e perigoso demais pra sua vida tão cautelosa.

E não se assuste se no próximo elenco você se deparar com maconheiros, putas, homossexuais e um roteiro que seria um best-seller de um filmezinho underground. Quero escandalizar, chocar e jogar fora todo aquele rótulo ridículo que um dia eu ajudei a sustentar.

Calma, não precisa se desesperar e nem me dizer que preciso de terapia, nunca falei algo tão sério em toda a minha vida. E ao mesmo tempo nunca experimentei tantas coisas maravilhosamente boas e até então desconhecidas pelo simples medo desse julgamento medíocre. Quero dizer que o meu barco está partindo sem rumo e sem volta, quero dizer que estou a procura do capitão dessa aventura e do senhor da minha direção. E enquanto isso, vou sentindo a brisa bater, e o vento levar. Quem sabe o final do filme dessa vez levante a platéia e arranque belas palmas.

terça-feira, 6 de abril de 2010

(So)litude.


Uma garrafa de vinho importada em cima da mesa, taças postas, o jantar exala o cheiro de quase pronto e no som toca um samba antigo daqueles que deixam saudade, melancolia. Um sentimento bom de vivência do agora, do profundo, do verdadeiro. O saber da vida e de aproveitá-la. Uma boa conversa. O lado vazio da mesa. A taça intocada ao lado. A garrafa vazia na mão. E o samba ainda tocando no som.


"Eu tenho saudade
Dos sambas de antigamente
Quando o samba deixava
Uma vaga tristeza
No peito da gente
Não era amargura
E nem desventura
E nem sofrimento
Era uma nostalgia
Era melancolia
Era um bom sentimento."
Paulo César Pinheiro

sexta-feira, 5 de março de 2010

À procura daquele perfeito.

Os últimos 5 meses foram meses conturbados. Durante esse tempo vários passaram nas minhas mãos, nenhum que durasse tempo o suficiente pra poder falar que prestava. O primeiro era pequeno, franzino, com cara de quem deixa transparecer a fraqueza que tem, mas paguei pra ver e pra descobrir algum tempo depois que ele não satisfazia as minhas necessidades, exatamente pela fraqueza. O segundo, resolvi apostar num de tamanho mediano, que parecia mais seguro, não era muito chamativo por fora, mas beleza não era tão importante naquele momento. Esse também não durou muito tempo e então resolvi exagerar: o terceiro era enorme, forte, com braços compridos, por ter todo esse porte me dava mais trabalho que os outros, não era fácil lidar com ele, aquele jeito desengonçado, todo atrapalhado mas era resistente e achei que com ele meus problemas estavam resolvidos. Me senti mais segura, mais pronta pra enfrentar os problemas de todos os dias. Mas esse também foi embora me levando a crer que eu deveria começar a escolher melhor. A partir de então comecei a escolher não pela forma física, mas sim pelo material, pelo que se é feito, a essência. No começo, cometi um erro que me levou mais um: escolhi pela beleza, delicadeza e suavidade que fazia dele, um charme só. Mas era delicadeza demais e não durou muito tempo até que ele também desmoronasse. Venho desde então escolhendo diferentes jeitos e tamanhos tentando achar aquele que conseguirá ser meu parceiro por pelo menos mais que 2 semanas. O último que escolhi era totalmente o oposto, não chamava atenção, não tinha charme, mas tinha feições duras, simétricas, cor de chocolate. Transpassava segurança, as vezes parecia intocável, como se nada fosse desmoronar aquela rocha que parecia ser feito. Porém, após 2 dias intensos e cansativos Braga me levou mais um embora. Aquela força toda também desmoronou como todos os outros me deixando sozinha no momento em que mais precisava dele. Não Braga exatamente, mas esse vento inútil que não para de soprar trazendo essa chuva fria infernal, destruindo cada um deles, entortando cabos, hastes, não sobrando praticamente nada. Tô saindo mais uma vez pra comprar outro guarda-chuva novo. Não sei porque ainda insisto em usá-los.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Don´t try me.

Ela se arrumou, colocou aquele decote sedutor, um batom vermelho na boca, aquele salto, um perfume novo que ela só usa pra ocasiões especiais. Chegou na festa e as atenções eram só pra ela e ela sabia que hoje ela era desejada mais que em todas as outras noites. Aquele vestido não tinha sido colocado em vão. Mas todos aqueles olhares não faziam muita diferença. Era desejo, carne e sedução que ela insistia em não sucumbir. Ela tinha virado mais um produto colocado na prateleira principal de um mercado onde cada um compra aquele que mais lhe chamar a atenção. O problema é que ela não queria ser comprada, estava cansada de sempre ter que enfeitar a embalagem e esperar que alguém se interessasse pelo conteúdo. Ela olhou ao redor e a festa era o mesmo mercado de sempre, cada um fazendo a sua propaganda e, olha, era cada promoção de assustar: 50%, 60%, 70% off, Pague 1 leve 2, Aceitamos devolução se não contente com o resultado e até mesmo consignação. Mas ela não estava em promoção, nem sequer queria estar ali naquela prateleira empoeirada vendo sempre as mesmas pessoas, as mesmas coisas. Foi no banheiro, tirou o batom vermelho e a sombra do olho e foi embora, deixando pra trás aquela maré de gente dando lances uns nos outros e se perguntando quando foi que tudo isso parou de fazer sentido.