domingo, 25 de maio de 2008

Vício

Ela poderia jurar que passaria horas daquele jeito. A maneira como eles se encaravam agora era tão intenso e verdadeiro que qualquer frase dita seria insuficiente pros dois. E também, ela sabia que tudo que tinha pra ser dito já fora dito, tudo que cabia no entendimento dos dois já fora explicado com inteira cumplicidade e sinceridade. Mas ainda sim ela sentia que algo ainda faltava, que algo impedia que fosse colocado o ponto final naquela história. Talvez fosse o fato de que ele, pra ela, sempre fora um enorme ponto de interrogação. Ela nunca soubera dizer o que nele era sentimento, o que era razão. Ela nunca descobrira a intensidade dos sentimentos dele e nem que tipo de sentimentos eram. Olhando agora, aqueles olhos já bastante conhecidos, ela pensava em tudo isso e pensava se ele saberia explicar os seus próprios sentimentos. Difícil entender os outros quando nem eles mesmos se entendem - pensou ela.

O que será que ele pensava agora? O que será que havia por trás de uma pessoa que é inteira impulso e vontades sem explicações? Como será viver sem saber o que você está sentindo, sem saber o porquê das suas ações?

Ela suspirou, saber que ela nunca teria essas respostas e que talvez nem ele mesmo chegasse a entender isso era frustrante. O que quer que ele estivesse pensando agora, era uma coisa só dele, mas aquele momento em si pertencia aos dois. Independente de como cada um se sentia, independente de como tudo havia terminado, aquele olhar de cumplicidade estaria sempre ali, estaria sempre mantendo essa ligação que está acima de tudo que acontecera. Por que essa ligação é como um fio, um único e fino fio que vive no suspiro dos dois de não deixar que ele se parta. Quem sabe, um dia, ela possa chamar esse fio de amizade e nada mais.


"Oh meu amigo,
eu esperei tanto tempo por respostas
e depois de tanto tempo
Ainda havia mais, pra esperar"
Nenhum de nós


Dica: Eu não entendo - Nenhum de nós

sexta-feira, 23 de maio de 2008



"I'm not calling for a second chance,

I'm screamming at the top of my voice,
give me reason but don't give me choice,
'Cause I'll just make the SAME mistake AGAIN"
James Blunt


Há alguns dias que as palavras me faltam, fogem de mim como algo estranho e irreconhecível. Sinto, porém, uma vontade quase inadiável de escrever, de colocar entre linhas esse emaranhado de coisas tão difíceis de entender e explicar.
É tanta ondulação de emoções e pensamentos, tanta repressão de atitudes, tantas frases meio ditas, palavras faltando no diálogo e sobrando na boca, que me entopem e entorpecem o cérebro. São tantas as minhas vontades agora que ouso dizer que a sutil diferença entre o querer e o não querer, entre a burrice e a inteligência já deixou de fazer sentido. Nessas horas de falta de controle e racionalização, o que eu vejo é só impulso. Impulso que me faz querer o racionalmente errado, impulso que confunde a exasperação com a exaltação, impulso que me engasga, me afunila, me sufoca e me fadiga. Impulso esse que vomita essas palavras numa tentativa inútil de explicar o inexplicável e entender algo que beira o surreal.



domingo, 4 de maio de 2008

E quando você diz pra eu me acalmar, aí é que eu me desespero.
Quando a sua fala fica mansa e seu olhar doce, é como se me dissesse pra ficar preparada, pra ser forte, pra não chorar.
Quando eu vejo os cacos no chão e as mentiras sobre a mesa surpreendo-me com um olhar de desprezo, ou quem dirá, de indiferença.
Há muito venho fazendo assim, fecho os olhos e te enxergo como eu quero, como um amante que você nunca foi pra mim e, ouso a dizer sem dúvida alguma, nunca foi pra ninguém. Mas agora que os meus olhos estão abertos eu aproveito pra me deliciar da cruel verdade.
A verdade que me diz em alto e bom som: BASTA!
De nada me consola sempre ter falsos amantes, de tê-los somente comigo, do meu jeito, como pessoas perfeitas pra mim! Não existe pessoas perfeitas pra mim, do mesmo jeito que não as existem pra você! E se um dia eu te fiz perfeito, se um dia eu fiz alguém perfeito, quero me desfazer dessa ilusão. E é disso, exatamente disso, que me desfaço agora.
Desfaço e desfacelo,
em tantos eus, vocês e nós.
Até tudo isso virar eu e, apenas, eu.

quinta-feira, 1 de maio de 2008

Quando você começa a correr contra o tempo, quando as coisas banais e rotineiras começam a fazer falta, quando você se cansa do dia-a-dia, então o que você faz?
O que me falta é a banalidade e as coisas fúteis, as tardes deitada no sofá dormindo depois do almoço e vendo novelas antigas, os dias andando sem objetivo pelas ruas e lojas, as conversas sem sentido com os amigos que duram dias.
Então você pensa em largar tudo, então você pensa em jogar tudo pro alto. E nessas horas sempre tem alguém pra lhe dizer que você será recompensado, que vai valer a pena todo esse esforço. Mas me diga, e meus amigos? Quem lhes trarão de volta quando cada um deles for engolido pelo mercado de trabalho? Quem trará minhas tardes debaixo de árvores jogando conversa fora?

Não, eu sei... É o preço que se paga. Sempre há um preço pelas decisões tomadas. E é incrível como a cada ano que passa esse preço aumenta mais e quando ele começa a ficar alto demais a gente se pergunta o que vale mais a pena.

Te digo que se tivesse coragem o sufuciente largava tudo agora, iria viver do meu jeito, sem preocupações, devaneantemente.
Te digo, se pudesse não cresceria nunca, pararia o tempo naquele exato momento em que tudo se resumia em algodão doce e chocolate!




Pra lembrar:

"Tornar uma amor real
é expulsá-lo de você
pra que ele possa ser de alguém."
Nando Reis