segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Troca.

Ei, escuta. Você não precisa mentir pra mim e dizer mais um monte de besteiras sem sentido. Eu já estive no seu lugar, já dei as mesmas desculpas, nas mesmas ocasiões. Eu pensei que você tivesse entendido que eu sou diferente, que eu não quero te pressionar e nem te levar pro altar. Não quero que você me deva desculpas ou satisfações, quero só que seja honesto. Não pense que eu me deixei enganar por você e esse seu sorriso lerdo de canto de boca que me faz derreter inteira, não pense que por esse seu charme e perfume hipnotizante eu perdi a cabeça e deixei de lado tudo que aprendi. Eu também sabia que você só queria se aproveitar de alguns momentos legais e então por que não juntar duas pessoas que se dão bem? Sim, eu me vendi sabendo que estava sendo vendida. E por isso, a negociação passou a ser outra: a da troca e não venda. Só que você ficou com medo dessa troca, medo de que isso pudesse afetar a sua liberdade com tanto custo conseguida. Você ficou com medo de que eu pudesse pirar, enlouquecer aos seus pés. Oh, santa ingenuidade! Você, menino, pode ter muitas qualidades, mas precisa muito mais que isso e muito menos medo pra me fazer mudar de rumo. Infelizmente, vamos ter que parar por aqui. Vamos arrumar outros para passar o tempo, pra conversar besteiras, até que a gente esqueça de como nós somos bons juntos, de como é gostoso. E daí, já não vai fazer mais diferença, porque prazer por prazer, ah, isso meu bem, a gente encontra aos montes.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Conflito

Sim, eu entrei em conflito com tudo aquilo que havia dito antes. Sim, eu me traí e traí também aquele ideal que venho defendendo há tanto tempo. Infelizmente essa não é a primeira vez e nem vai ser a última delas, muito menos a mais doída. O difícil vai ser conseguir lidar com tudo isso sem perder a cabeça de novo, sem cometer os mesmos erros de antes.
Não, não me deixe mais confusa e também não venha me perguntar pela milésima vez porque comecei a agir assim. Talvez no fundo eu soubesse o resultado dessa bagunça toda e quis simplesmente ignorar, ou talvez eu seja mesmo ingênua a esse ponto.
Ingênua ou não, o fato é que agora eu tenho uma vontade enorme aqui dentro que cresce a cada segundo e eu não consigo lidar com ela e nem com essa minha falta de paciência com a vida e com os acontecimentos que insistem em ocorrer no sentido normal e no instante certo e não na hora e no momento em que eu quero, ou seja: o agora.
É eu sei, eu sempre tive dificuldades com o passado e o futuro. Você sempre me dizia sobre a minha necessidade compulsiva de viver o agora pra sempre. Da minha afobação de querer tudo ao mesmo tempo. Você sempre esteve certo e eu acho que é por isso que sempre vivo em conflito, sempre me traindo. Assim como agora.
Andei pensando se teria coragem de renunciar à algumas coisas em prol de outras. Sinceramente, não sei. Me sinto tão antagônica nesse conflito de interesses que não consigo ao menos dizer o que quero mais.
Então venha me resgatar desse buraco sem fundo, estenda a sua mão e me diga o que você quer e assim, quem sabe, minha agonia acabe.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Maré.

Nós tínhamos o mesmo gênio e o mesmo modo de enfrentar as loucuras da vida. Tínhamos o mesmo gosto por filmes estranhos e comédias toscas. Até aquele álbum desconhecido daquela banda mais desconhecida ainda era o nosso preferido. E então? Onde foi que nos tornamos tão diferentes?? Aonde foi que perdemos a nossa conexão que era tão intensa e gostosa?

Enquanto eu falava um monte de coisas desconexas e emendava um assunto no outro daquela minha forma descontrolada de conversar eu via aquela sua mesma expressão de quem acha graça e até um pouco fofo. E então sua expressão foi mudando ao mesmo tempo que eu mudava o rumo da minha conversa até o ponto em que sua expressão era irreconhecível. E eu me escutava falando de longe e era como se não fosse eu, como se aquele tanto de sinceridade fosse demais e até um pouco cruel. Mas até que ponto mentir pra mim e pra você seria válido pra manter uma coisa que há muito não existia mais? Até que ponto existimos de verdade e até que ponto inventamos uma relação insustentável?

Para de me olhar como se eu fosse louca. Você nunca entendeu e receio que nunca vai entender as cartas que já te escrevi. O fato é que talvez eu esteja enganada sim, mas e daí? Eu cansei de tentar, cansei de me estressar sempre pelas mesmas coisas. Então, faça um pacto comigo de descompromisso. Vamos manter tudo nessa maresia de loucura e impulso e quem sabe um dia a maré não nos aproxima ou nos afasta de vez?