domingo, 30 de dezembro de 2007

Ressaca.

Ela acordou, levantou pra ir no banheiro e olhou as horas. Ainda era muito cedo, ela queria voltar e dormir, mas a dor de cabeça era enorme. Ela lembrou da noite anterior e jurou nunca mais beber tanto!
Ela se olhou no espelho, o cabelo todo desgrenhado, o olho borrado do lápis preto e sentia na boca um gosto ruim. Joana sabia q gosto era aquele: Ressaca! Moral e física.
Tentou lembrar o nome daquele infeliz de ontem.

Como era mesmo? Pedro, João, Guilherme, Carlos?
Não importa agora.

Ela se sentia indigna. Mas queria esquecer o que as palavras relacionadas a valores e princípios significavam. E foi o que ela fez na noite anterior. Estava cansada de ser a noiva do fulano, a filha do cicrano... Queria ser, por pelo menos uma noite, a Joana e só. Queria ser a Joana com um salto 15, com os olhos pintados, uma batom bem vermelho na boca, um vestido curto e brilhante e um perfume de matar!
Ao se olhar, já pronta pra sair, não se reconheceu naquele corpo, naquelas roupas, mas preferia assim. Preferia, só por essa noite, não ser o que ela sempre fora.
Chegou sozinha na boate mais badalada da cidade, pediu a bebida mais forte e incrementada do bar, e bebeu, uma, duas, tres... e mais outras tantass doses!
Agora, em cima do balcão, dançando um funk que nunca tinha escutado, ela se sentia a melhor das criaturas. Ela experimentava, quem sabe pela primeira vez, a sensação de liberdade.
E essa sensação durou a noite inteira, chegou em casa com o tal de carlos, guilherme, ou qualquer outro nome. Estava bêbada demais pra deixar ele entrar, então saltou logo do carro, sem mais despedidas e correu pra dentro de casa. Sabia o que aconteceria depois. A privada, fora durante a maior parte do tempo, sua melhor amiga durante o q tentara, inutilmente, dormir.
E assim fora, até que já claro, conseguira pegar no sono.

Agora ali, se olhando no espelho e relembrando disso tudo, sentiu-se enormemente bem. Apesar da dor de cabeça, do estômago fraco. Ontem ela fora a Joana. Ela fora só dela e ponto.
Se viu no reflexo com um sorriso bobo, com uma falta de vergonha no olhar.
O interfone tocava. Ela saiu daquela espécie de transe e lembrou: Seu noivo chegaria de viagem logo pela manhã. O sorriso se esvaíra. O que saía do banheiro era, agora, somente a noiva de alguém. Mas algo irreversível tinha acontecido e era impossível de ser apagado da memória. Joana sabia que assim que quisesse podia voltar a ser sua, e só sua, de novo. Por isso ao abrir a porta pro noivo, abriu um sorriso largo e puxou ele pra dentro ferozmente. Se na noite anterior ela tinha sido só dela, agora, pelo menos durante aquela manhã de reencontro, ela seria dele, só dele e de mais ninguém!


"O nosso amor a gente inventa pra se distrair"
Cazuza

quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

Conformidade.

Ontem, no aniversário da Adrielly, senti saudades da minha vida de colegial.
Ao deitar pra dormir e colocar a cabeça no travesseiro lembrei de coisas que jamais pensei um dia sentir falta. Percebi que até mesmo as aulas mais chatas deixaram um quê de nostalgia, não pelo conteúdo, mas pelas companhias, pelas besteiras ditas todos os dias e pelas brincadeiras incessantes e que nunca eram suficientes. Lembrei de uma época em que ir pra aula era divertido pela troca de papéizinhos, pelos comentários infames, pelas fofocas inúteis, pelos suspiros abafados.
Das amizades que hoje estão tão distantes mesmo tendo um dia jurado nunca se afastarem.
Percebi quantas pessoas eu jurei que não deixaria sumir de mim e que, hoje, eu não sei mais por onde andam. Lembrei de pessoas que mudaram de cidade e que nunca dão notícias e também lembrei daquelas que ainda estão em Uberlândia mas que nunca vejo!
De repente eu comecei a sentir um vazio que parecia estar dormente desde o fim do ano passado e só agora começa a aflorar. Enquanto, na formatura, todos choravam por ter chegado ao fim todos aqueles 3 anos de convivência eu me sentia tão bem. Parecia ainda não ter realizado o que aconteceria depois. E ao me dar conta disso ontem a noite, foi como se eu sentisse um pedaço de mim indo embora com cada um dos meus amigos que hoje não passam de conhecidos.
E esse vazio era incrivelmente latente e dolorido.

Como pude deixar que todas essas pessoas simplismente saissem da minha vida?
Mas que tolice! Não depende de mim.

Em meio aquela confusão eu tentei fazer a coisa mais burra que alguém poderia ter feito. Tentei me convencer de que meus novos amigos ocupariam o lugar dos que já foram, mas não consegui.
Eu não conseguiria igualar as pessoas, os defeitos e as qualidades que me fizeram odiar ou amar um ou outro.

E essa foi a minha derrota.
A minha derrota foi perder pro tempo, perder praquilo que ninguém consegue deter.



"De repente, a gente vê que perdeu
Ou está perdendo alguma coisa
Morna e ingênua que vai ficando no caminho
Que é escuro e frio, mas também bonito porque é iluminado
Pela beleza do que aconteceu há minutos atrás"
Cazuza




"E não podemos evitar

Que a vida trabalhe
Com o seu relógio invisível
Tirando o tempo de tudo
Que é perecível..."
Biquini Cavadão



terça-feira, 25 de dezembro de 2007

25 de dezembro de 2007

Confesso que escrevi um texto sobre esse dia.
Mas é tudo tão repetitivo... O desencantamento do natal e a banalização da mágica da chegada do papai noel, a desanimação das famílias, o fim do gostoso clima de natal!
Enfim, hoje me sinto bem demais pra falar que o natal não foi bom, pra reclamar do desânimo de sempre.
Talvez porque esse tenha sido um pouco diferente.
Talvez porque eu tenha visto um lado bom que eu ainda não tinha enxergado.
De qualquer maneira, espero que esse dia passe a significar mais do que o natal.
Tanto ou mais especial quanto!


*Um péssimo dia pra se escrever!

sábado, 22 de dezembro de 2007

Amargo.

"Eu sei é doce te amar,
o amargo é querer-te pra mim"
Los Hermanos



Então é o seguinte:
Viva o hoje intensamente, sem pensar no amanhã!
E assim a cigarra fanfarrona, no inverno, quase morreu de frio!
Se as literaturas infantis e os livros de auto-ajuda resolvessem os problemas eu realmente estaria despreocupada!
Mas é que às vezes você se depara com problemas que juraria que sairam daqueles filmes de comédia romântica, ou daquele livro de aventura que você leu tempos atrás. Mas a diferença está que na vida real nada está escrito ou determinado. Nos seus problemas você tem a oportunidade de tomar o rumo que desejar. E isto lhe dá a horrível sensação de responsabilidade.
Responsabilidade pelos seus atos e as conseqüências que eles trarão à você.
Maldito Sartre!
Me lembro quando eu ainda pensava que o problema maior, que era resolver meus problemas internos, estava resolvido então tudo estaria na mais perfeita ordem.
Santa inocência!
Talvez aí esteja o grande erro.
O egoísmo de pensar que resolvido com você o resto se adaptaria.
Talvez de tanto egoímo eu queira, realmente, pedir que você fique.
Fique mais um minuto, mais uma noite, mais um mês.
Mais e mais...
Incondicionalmente!
Totalitariamente!

sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

Uma sexta a noite,
um pouco de Blues e melancolia.
A necessidade de uma garrafa de vinho do lado e de uma boa conversa.
Mas eu não quero conversas, nem boas nem ruins.
Quem sabe então, a necessidade de uma companhia. Da companhia e só.
De deitar sobre a grama e olhar o céu, que esteja nublado, estrelado ou limpo. Não importa.
A cabeça e o coração viajam numa velocidade muito maior do que os olhos são capazes de acompanhar.
Tudo é tão íntimo e natural, agora.
Fecho os olhos e não quero pensar em nada, não penso em nada.
Não há necessidade de palavras, o silêncio hoje é confortável e compreensível.
Está tudo sereno e completo.
Sereno e inexplicável.
Um pouco de Blues e nada mais.

"No, no, no
Don't make me stop now
No baby"
Otis Redding

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

As palavras jogadas na cabeça e bagunçando o coração.
O coração pulsando forte sem saber o que fazer.
O querer o fácil e desejar o difícil.
O medo de lutar por algo que lhe traz insegurança.
A desconfiança eterna e imutável.
O que corrói por dentro.
Aquilo que ninguém vê ou entende.
A sensação de que tudo é reprise.
e de novo o medo...
O medo...
O medo...

"Num passeio no meio da rua
Vamos dias e noites afora
Agora podemos ver na escuridão"
Ana Carolina


sábado, 1 de dezembro de 2007

Um fio

Ela estava parada, com o olhar fixo e paralisado nele. Por um momento ela podia sentir que ele era só seu. Seu e de mais ninguém. Clara sempre teve esse instinto possessivo que se tornava mais nítido em momentos como esses. Não havia nada de especial e ele não havia dito nada a ela que lhe emocionasse, apenas olhares foram trocados. Olhares com certo ar de mistério, pois Clara sabia que nunca descobriria o que ele estava pensando, talvez pensasse na prova da próxima semana, talvez na discussão que tivera em casa com os pais ou talvez apenas estivesse olhando pra ela com o mesmo olhar sincero que ela retribuía. Mas ela prefiria assim, preferia não saber o que se passava pela sua cabeça, preferia deixar que aquela sensação de mistério e possessividade tomasse conta dela por inteiro, por um momento ela podia sentir seu corpo se expandindo, podia sentir dona de si mesma e queria deixar de se controlar, queria que sua mente parasse de dizer ao coração o que ele podia dizer ou não, queria somente abraçá-lo e ficar assim por quanto tempo fosse possível, pois assim ela sentiria que tudo estava ao seu controle. Clara sabia que depois que os dois quebrassem aquela ligação pelos olhares, ela não seria mais dona dele e tudo fugiria de seu controle, ela sabia que estava vulnerável às mais estranhas forças, mas isso não era o que a assustava, o que lhe fazia disparar o coração é a sensação de impotência. É sentir que o único fio que ainda a fazia sentir segura eram os olhares. Os olhares que lhe davam tanta segurança e tanto medo de perdê-lo.


"Ponho os meus olhos em você
Se você está
Dona dos meus olhos é você
Avião no ar"
Nando Reis