segunda-feira, 21 de abril de 2008

Esperança.

- Mas isso não quer dizer que não possa ser bom de novo. Eu ainda acredito que um dia tudo vai voltar àquela paz de antes. Eu tenho essa esperança e não vou perdê-la!

Era engraçado e até mesmo cativante a maneira como ele era positivo e paciente em relação ao futuro. Não era seu único amigo que depositava todas suas fichas nessa falsa amiga, a esperança. Mas apesar de achá-la falsa, ela admirava a confiança que ele tinha. É fácil admirar nos outros o que sempre foi sua fraqueza. Ali, enquanto ele falava sobre acontecimentos recentes, ela devaneava sobre essa tal da esperança.

Como pode alguém ser tão cheio de esperança que espere sempre o melhor do futuro? Como pode alguém nunca se decepcionar com ela?
Mas ela estava enganada, e logo percebeu isso. Ele já havia se decepcionado várias vezes, mas também várias vezes havia levantado e confiado de novo, sempre agarrado na justificativa de que ainda esperava que um dia fosse dar certo.
Resgatou do sótão empoeirado da memória um tempo que ela tinha quase uma certeza inquestionável de que tudo que queria seria alcançado. Pesou os resultados. Por um momento, ela se voltou ao amigo, que continuava a gesticular e falar coisas, que agora, pareciam não ter nexo algum. Os resultados eram o que chamava a sua atenção agora. Tudo que envolvia a razão, obtera os melhores resultados, sempre alcançando suas expectativas, já os que envolviam a emoção, ela não conseguiria palavra melhor que o caos.
O engraçado é que analisando friamente, o caos se impunha externamente à ela. Por má sorte, se é que ela acreditava em sorte, sempre que ela conseguia se acertar com os seus sentimentos, algo de fora vinha lhe desmoronar.
Será a sorte a maldita guia dessas desastrosas relações sentimentais que sempre tivera? Teria intão uma causa ou um culpado?
Outro súbito pensamento lhe trouxe o olhar ao amigo de novo, ele agora ria, de algo que ela não saberia dizer. E ela se pegou rindo também. O que o amigo falara não importava. Ali, naquele exato momento, ela tinha se dado conta de algo que há muito pedia por explicação.
Ela conseguiu enxergar o mais difícil dos defeitos. Se lembrou de quando disse um dia à uma amiga o quanto era fácil achar o defeito dos outros, difícil mesmo era enxergar o seu. Se viu, ali, vitíma da sua própria frase. Pela segunda vez, há algum tempo atrás, ela havia culpado alguém de ser racional demais, de se esquecer do coração. Mas ao tentar explicar o seu eterno fracasso emocional, ela se viu racionalizando a si própria, racionalizando seus sentimentos. Será mesmo tão difícil saber o porquê de tanto sucesso na área racional? Se não era ela mesma a culpada de racionalizar seus sentimentos e emoções?

Talvez de tanto querer controlar as situações e os sentimentos, a razão tenha se imposto sobre emoção. Talvez depois de saber disso, ela passe a entender melhor, os que antes julgou com frieza. Talvez agora ela mudasse. Talvez agora ela saisse do controle e experimentasse deixar tudo ao sabor da sorte, do futuro. Talvez agora ela devesse ter esperança no futuro, assim com seu amigo.

Ao pensar nele, ela voltou à realidade, viu que ainda estava rindo de sim mesma e de todo esse turbilhão de coisas que estavam passando pela sua cabeça. Mas não foi necessário explicar nada à ele. Ele ria com ela, como se compartilhasse de toda àquela descoberta e, mesmo que não soubesse, ele havia compartilhado muito mais do que ambos eram capazes de compreender.

domingo, 13 de abril de 2008

Talvez de tanto egoísmo eu queira, realmente, pedir que você fique.

"Talvez por amor, por precisão, talvez por capricho, por medo; da solidão, da noite, do vazio, da ausência, talvez por egoísmo eu queira pedir que você fique. Mas eu não vou. Não vou por orgulho, por desistência, por experiências anteriores, por cansaço, por resistência, ou talvez por amor... pelo meu amor... o amor próprio."
Adri.

Quando fico assim, no escuro, consigo enxergar o que você não vê. Não vê por que não quer ou por que essa sua frieza não lhe deixa. Quanto mais eu vejo, mais eu entendo que fizemos a coisa certa, mais concordo com o ponto final. E, talvez, agora eu consiga entender o que há de vantagem em ser tão racional. Quando se começa a colocar a razão no centro de tudo, as dores e os sentimentos são menos intensos. Ouso a dizer que alguns sentimentos sumiram ou deram lugar a outros mais amenos, menos complexos. Mas ainda não consegui me convencer de que esse é um bom caminho, não consegui enxergar o que há de bom em ser milimetricamente racional. Não quero perder minha intensidade, não quero perder meu gosto por gostar das pessoas. Não por você e nem por ninguém. Ouvi um dia alguém dizer que a cada vez que se apaixonava e sofria uma desilusão, dava vontade de nunca mais se apaixonar por ninguém. Chame de atrevimento, teimosia ou o que for, mas a minha vontade de amar aumenta a cada vez que depois de uma grande desilusão eu consigo enxergar que eu mereço mais e que esse mais existe em lugares tão mais próximos do que você mesmo consegue ver.


"Toda vez que falta luz,
toda vez que algo nos falta,
o invisível nos salta aos olhos..."
Engenheiros do Hawaii

sexta-feira, 11 de abril de 2008

Se fosse...

Se fosse pra escolher um momento, eu diria o agora. Não esperaria um futuro melhor, ilusão de quem espera ser feliz num futuro próximo. Eu não: quero ser feliz agora! Se fosse pra escolher as palavras certas, eu simplesmente não as escolheria. Deixarei com que elas tenham vontade própria, vida livre pra formarem sentenças tão verdadeiras que eu mesma me supreenda com tamanha sinceridade.
Se fosse pra fazer um pedido, eu pediria que o tempo passasse mais devagar, que eu pudesse aproveitar cada dia com mais gosto do que eu vejo hoje. Mas se fosse pra pedir que algo se mantivesse como está hoje, eu manteria meus amigos. Eu manteria meu dia-a-dia que reclamo todas as manhãs por ser tão corrido, mas não posso negar: essa rotina é divertida! E como é!
Se fosse pra escolher uma lembrança pra deixar viva pra sempre, eu escolheria um sorriso. Um sorriso de cada um dos que me completa!
Se fosse pra falar dos que odeio, eu diria que não vale a pena manter rancor, lele te deixa mais dura, mais fria. Prefiro dizer que essas pessoas eu esqueci ou bani da minha convivencia.
Mantenho ao meu redor somente aquelas que me fazem bem.
Se fosse pra escolher alguém, eu escolheria a mim mesma.
Se fosse pra escolher um amor, eu escolheria o amor-próprio.
Se fosse pra fazer um pedido à você, não pediria que me entendesse, pediria somente que fosse complascente!

sábado, 5 de abril de 2008

Desculpa.

"Você me diz que eu te olho profundamente...
Desculpa, tudo que vivi foi profundamente.

Eu te ensinei quem sou e você foi me tirando os espaços entre os abraços,
Guarda-me apenas uma fresta.

Eu que sempre fui livre, não importava o que os outros dissessem.
Até onde posso ir para te resgatar?
Reclama de mim, como se houvesse possibilidade de eu me inventar de novo.

Desculpa, desculpa se te olho profundamente, rente à pele
A ponto de ver seus ancestrais nos seus traços,
A ponto de ver a estrada antes dos teus passos.

Eu não vou separar minhas vitórias dos meus fracassos!
Eu não vou renunciar a mim; nenhuma parte, nenhum pedaço do meu ser vibrante, errante, sujo, livre, quente.

Eu quero estar viva e permanecer te olhando profundamente!"

(Recitado por Ana Carolina na turnê "Dois Quartos")