sábado, 8 de março de 2008

Vento, ventania II (Continuação)

http://oinsanoeosutil.blogspot.com/2008/01/vento-ventania.html


Porém, a fraqueza que lhe sobrava não era maior que sua curiosidade e sua esperança de que a brisa não fosse o vendaval que ela achava que era. A cada movimento de volta à janela ela se perguntava se deveria arriscar, se seria seguro colocar sua casa à mercê do tempo.
Um dia, então, ela resolveu desafiar os outros, desafiar o vendaval que tinha varrido sua coisas há algum tempo, resolveu desafiar a si mesma. Mais uma vez olhou pra cada móvel, pra cada livro na estante, cada objeto em seu lugar, a casa estava impecável. Belo trabalho eu fiz, pensou ela. Então, cuidadosamente ela se dirigiu à janela, ainda com medo abriu uma, duas, três... Sentiu de novo a brisa da manhã batendo no seu rosto, sentiu o perfume da chuva que havia caído durante a noite, sentiu a leveza das flores da primavera. O sentimento era tão sublime que resolveu abrir as portas também, e assim sua casa estava de novo cheia de vida, leve, brilhante, luminosa.
Quase não querendo se render ao fim da manhã a tarde chegara de novo, ela não podia deixar de esconder o medo que sentia a cada minuto que se passava, mas então, já no meio da tarde decidiu se despreocupar, talvez a tarde não fosse mais ameaçadora, talvez a brisa realmente não fosse a causa do vendaval antes presenciado por ela.
Ela se jogou no sofá, se deliciou em novamente poder se sentir leve como agora, ela poderia voar se quisesse, poderia cantar, poderia não mais se preocupar em arrumar a casa, ela gostava do jeito que estava agora.
Mas nós sabemos que não podemos nos deixar tão vulneráveis, nós sabemos que confiar demais em algo que um dia já nos destroçou pode ser um erro irremediável e foi quando ela se jogou no sofá que algo aconteceu. Pela segunda vez, ela sentiu a brisa leve indo embora, sentiu de novo a força de um vento que ela conhecia bem, mas não podia acreditar. Será que ele novamente vai destruir tudo? Vai destruir minha casa que arrumei com tanta dor e sofrimento?
Mas o vendaval não se importava com a casa, não se importava com os móveis, muito menos com o tempo que ela passou arrumando tudo que tinha sido desarrumado da última vez que ele passara por ali. E ela viu mais uma vez tudo ser jogado ao chão, viu todas as suas coisas serem amontoadas com uma falta de consideração que lhe causou desprezo, não só pelo vento que agora passava por ali, mas pela brisa, que lhe fizera acreditar que poderia ser diferente pelo menos por uma vez.
Então ela simplesmente ficou ali, vendo sua casa desmoronar, vendo todo seu trabalho de reconstrução ser jogado no lixo, então esperou, esperou que o vendaval passasse e quando ele passou ela não se lamentou, ela não praguejou, ela não se culpou por ter acreditado mais uma vez, ela somente se levantou e fechou de novo as janelas e as portas, sua casa voltara a ficar escura de novo. Ela olhou pra toda aquela bagunça, suspirou fundo e tentou achar as mesmas forças que lhe fizeram reconstruir tudo uma vez e então colocou o primeiro livro de volta na estante. Uma lágrima pesada e solitária desceu pelo seu rosto e com a mesma rapidez com que veio desapareceu também. Não há tempo a perder com lamentações, ainda há muito trabalho aqui, pensou ela.

2 comentários:

Adrielly Soares disse...

Tanto a parte um, quanto a parte dois, tem finais interessantes,
mas confesso que ( a parte um ) com a parte dois eu me identifico mais.
A melhor coisa que descobri em mim foi escrever, que bom que passei esse gosto pelo "blog" pra você,
as coisas se tornam mais claras quando se pensa nelas e o que fazer com elas.
E se não tem coisa mais útil pra fazer com os sentimentos... escreva!
Assim você jah poe os livros na estante e começa a ajeitar a bagunça.


beijominhaeternasaudade.

Adrielly Soares disse...

Esqueci de falar que comentei nos últimos.