terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Apagou a luz. O abajour no canto do quarto deixava um luz fraca e tremeluzente, quase como uma vela. O vento lá fora batia na janela avisando a tempestade que estava por vir. Deitou na cama, fechou os olhos, escutou o barulho de cada gota que começou a cair na janela. Se encolheu. Era medo, insegurança, era querer tudo e não poder nada.
Querer tudo. Esse era o problema. Tinha gente batendo na porta. Tinha alguém espionando pela janela. Tinha preguiça demais pra levantar pra abrir a janela, escancarar a porta. Está tudo uma bagunça, essa era a desculpa de sempre, apesar de saber exatamente os cantos em que a poeira tinha se acumulado, onde tinham cacos no chão da última briga. Só que cada pedaço daquele quarto era especial. Cada grão de poeira, cada caco de vidro jogado representava alguma parte da vida que ela não queria esquecer. Não é que não podia. Mas é que era tudo grande demais pra ir pro lixo.

Cansou. Andava de um lado pro outro. Era inquietação. A droga da chuva que não parava e não deixava o mundo escutar o grito que ela dava ali de dentro do quarto escuro. Estava errado, era claro que estava. Mas se não dava pra jogar tudo no lixo, talvez desse pra organizar em um canto, tentar parar de agir como uma louca sem entender o sentido daquela bagunça toda. Sentido era claro que tinha, e há muito tempo tinha deixado de ser novidade. Faltava era a vontade de ação. Só que dessa vez era mais que desistir. Era a primeira vez que ela parava pra enxergar os seus defeitos, os seus erros de uma maneira mais ampla, mais significativa. Precisou de uma sacudidela e um tapa na cara. Precisou de uma alergia por causa do pó e um corte na mão. Precisou agir sem pensar, se sentir patética, e envergonhada.

Queria forças, buscava forças. Olhava pro lado e buscava ajuda. Não, nunca conseguiria sozinha, lhe sobrava coração demais e cérebro de menos. As batidas na porta eram cada vez mais fortes, começam a lhe dar dor de cabeça. Era melhor ir ver. Abriu um pouquinho, a luz era tão forte que quase não conseguia ver quem estava ali. Tentou se lembrar de quanto tempo aquele quarto não via uma nesga de luz do sol. O olho foi se acostumando, o calor foi entrando dentro do quarto. Mas era coisa demais pra um único momento. Fechou de novo a porta. Disse um volte mais tarde e se encolheu de novo na cama.

Já era um começo.

2 comentários:

Cris disse...

é... as coisas precisam ter um começo... e um fim...
.
.
.
(será mesmo???)

Cris disse...

é... as coisas precisam ter um começo... e um fim...
.
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.
(será mesmo???)