quarta-feira, 4 de junho de 2008

Queria escrever aqui alguma coisa diferente das que sempre escrevo, mas já não mais tenho idéias. As coisas que quero dizer são as mesmas de sempre, os sentimentos causando as mesmas reviravoltas, quem sabe um pouco mais apimentados com desejo e mágoa. Já não sei mais como expressar. O meu corpo, fala e expressão estão inutilmente presos à mesma rotina e isso me parece durar séculos. E eu sinto, essas algemas são de espinho, espinho e falta de compaixão. E toda vez que eu tento me livrar delas, elas espetam e eu recuo. Recuo com medo de me machucar. Talvez seja isso, e quando eu não mais tiver medo de me machucar meu corpo, alma e mente estejam, realmente, livres de novo.



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Ausência

Eu deixarei que morra em mim
o desejo de amar os teus olhos que são doces
Porque nada te poderei dar
senão a mágoa de me veres eternamente exausto.
No entanto a tua presença é qualquer coisa como a luz e a vida
E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto
e em minha voz a tua voz.
Não te quero ter porque em meu ser tudo estaria terminado
Quero só que surjas em mim como a fé nos desesperados
Para que eu possa levar uma gota de orvalho
nesta terra amaldiçoada
Que ficou sobre a minha carne como nódoa do passado.
Eu deixarei...
tu irás e encostarás a tua face em outra face.
Teus dedos enlaçarão outros dedos
e tu desabrocharás para a madrugada.
Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu,
porque eu fui o grande íntimo da noite.
Porque eu encostei minha face na face da noite
e ouvi a tua fala amorosa.
Porque meus dedos enlaçaram os dedos da névoa
suspensos no espaço.
E eu trouxe até mim a misteriosa essência
do teu abandono desordenado.
Eu ficarei só como os veleiros nos pontos silenciosos.
Mas eu te possuirei como ninguém porque poderei partir.
E todas as lamentações do mar,
do vento,
do céu,
das aves,
das estrelas.
Serão a tua voz presente,
a tua voz ausente,
a tua voz serenizada.
Vinícius de Moraes



Um pouco mais: Vai - Ana Carolina

Um comentário:

Adrielly Soares disse...

EU adoro esse poema ou sei lá o que.
Principalmente o começo.

" Vou deixar que morra em mim o desejo de amar os teus olhos, que são doces. "

Não é tão perfeito ?
;*