quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Próximo.

O sol começava a bater forte na sua janela lhe avisando que mais um dia havia chegado. Havia tanto tempo que ela estava ali sentada que já perdera a noção do tempo. Não saberia nem dizer se esse era o primeiro nascer do sol que avistava depois em que se ajeitou naquela posição. De tempos em tempos ela adormecia e sonhava sempre com as mesmas coisas, então acordava ofegante e frustada a testa suando, o coração aos pulos, o estômago revirado. Abria os olhos e passava a contemplar de novo a paisagem, o movimento da praça que ficava em frente ao seu prédio. Nada diferente das coisas de sempre, crianças brincando e gritando de manhã, casais de idosos passeando pela tarde. Parecia que o mundo gozava do seu estado de espírito.
Ela queria olhar pra fora e ver um dia cinza e chuvoso, daqueles que causam tempestades e desastres, que deixam cidades no escuro, que assustam os mais amedrontados. Ela queria sentir tudo na pele, na mais absurda dor. Fazia horas que estava se perguntando as mesmas coisas, que tentava encaixar os mais absurdos acontecimentos tentando encontrar entre eles alguma ligação que pudesse lhe dizer o que havia de errado. Mas nada fazia sentido. Era fato, o destino resolvera brincar com a vida de alguém. A dela, infelizmente, era um círculo vicioso de problemas que sempre se revelavam os mesmos, por mais que fossem imperceptíveis no começo, passado um tempo era sempre a mesma coisa, a mesma dor, a mesma desculpa, o mesmo sofrimento, o mesmo sofá, a mesma janela, a mesma praça.
Ela queria ter forças pra sair lá fora a amaldiçoar o vento, a sorte, o amor e o destino. Ela queria correr e gritar aos quatro cantos a sua revolta e a sua dor. Mas forças era tudo que ela não tinha naquele momento. Talvez se ela lutasse um pouco mais, se seguisse aquelas lições que leu naqueles livros de auto-ajuda que sua mãe lhe dera e que estão empoeirando na prateleira. Faltava-lhe forças e lhe sobrava medo. Era um medo sem medidas de não suportar a dor de mais um fracasso, de ter que superar tudo de novo. Ela não suportaria.
O sol já estava baixo de novo, aquele casal de velhinhos da esquina passava de volta pra casa, sempre tão fofos. Talvez fosse melhor fechar os olhos e esperar o próximo nascer do sol.

Um comentário:

Cris disse...

Vou sentar aqui e esperar o próximo nascer do sol, quer me fazer companhia?