Faz tempo que não escrevo. Acho que perdi o jeito, perdi a dor incessante no peito. Não. Acho que não perdi. Me anestesiei. É estressante sofrer tanto sempre pelas mesmas coisas mudando sempre atores e personagens. Tem coisas que são tão intrínsecas à sua personalidade que você tem que escolher: ou morre de agonia, ou esquece. Decidi esquecer o meu desespero de tudo, a minha afobação descontrolada, minha vontade de engolir o mundo só pra mantê-lo pra sempre dentro de mim. Me descobri mais calma, mais serena, mas também mais apática, como alguém que parou de correr e agora espera tediosamente o ônibus passar, se passar.
Mas eu não gosto desse novo eu, dessa nova pessoa que prefere não desejar pra não se contorcer depois na espiral de ansiedade. O que me fez descobrir que não existe uma zona de conforto pra mim, assim como não existe o meio termo das coisas. Se existem, ainda não consegui encontra-los, nem dentro nem fora de mim.
Dizem que estar fora da zona de conforto é a melhor situação para se estar pois é nela que você busca incessantemente mudanças, melhorias e evoluções para sua vida. Bom, deve ser por isso que estou sempre rodopiando feito um pião sem rumo, procurando novos lugares, pessoas e coisas novas pra viver sem nunca encontrar a razão ou algo que cesse essa vontade.
Dentro desse ciclo 8 ou 80 da minha vida, decidi que não quero ser o 8 e enquanto eu não conseguir achar outra saída, serei pra sempre 80. Eu quero amar demais e descontroladamente até que meu coração se sinta amado o bastante pra se sentir sereno, quero viver intensamente até que a mais calma rotina seja tão completa para mim que as mais banais atividades me satisfaçam. Quero viajar de canto a canto do mundo até que algum lugar me acolha tão bem que eu não sinta a necessidade de estar em nenhum outro.
Estou querendo muito e pra sempre. Estou querendo quase tudo e ao mesmo tempo. Percebo então que já sou 80 de novo e que a montanha russa de ansiedade já voltou a rodar no meu estômago. A dose de anestesia acabou e agora as dores do mundo voltaram para me dizer que é assim que tem que ser. Intenso, dolorido e, de um certo modo, muito mais prazeroso.
Um comentário:
muito feliz que você voltou.
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