domingo, 23 de janeiro de 2011

Que seja doce.

Um dia me disseram
Que as nuvens não eram de algodão
Um dia me disseram
Que os ventos às vezes erram a direção
Engenheiros do Hawaii


Eu me lembro de sentar na varanda de casa nas tardes quentes pra brincar e de como era gostoso sentir o frio da cerâmica em contraste com o calor que sempre fazia. Me lembro de pular corda, elástico. Também me lembro de como isso sempre me rendia alguns machucados e esfoladas. Me lembro de sair correndo no recreio da escola atrás dos meninos que sempre puxavam o meu cabelo. Me lembro de amarrar o cabelo com uma presilha em forma de borboleta. Me lembro de ter uma tiara de florzinhas que brilhava à luz do sol. Lembro do cheiro de bolo de cenoura da minha tia e de como eu sempre comia a cobertura primeiro e depois jogava o resto para o cachorro. Me lembro de passar tardes recolhendo frutos e folhas na casa da minha madrinha pra cozinhá-las depois nas panelinhas de ferro que eram da minha mãe. Lembro de ver inúmeras vezes o mesmo filme de um cachorrinho que saía da fazenda e ia pra Las Vegas, lembro também que naquela época pensava que Las Vegas era uma cidade perto de Uberlândia e que um dia cheguei a pedir pra minha mãe me levar lá. Lembro de um natal pedir pra minha mãe uma avó de presente e depois vê-la chorar sem parar sem entender o por quê. Lembro de ter medo de subir em árvore e mesmo assim subir todas elas só pra provar para os meus primos que eu não era uma menininha medrosa. Lembro de morrer de medo de andar de cavalo, lembro de quebrar um ovo choco na minha cabeça sem querer enquanto estava colhendo ovos no galinheiro com a minha prima. Lembro de acordar cedo na roça e sair correndo pro curral com um copinho na mão e o Toddy na outra esperando o Leite quentinho que meu avô tirava toda manhã. Lembro de fazer cabo de guerra no meio do curral logo depois de acabar de tomar banho e deixar a minha mãe louca de raiva. Lembro acordar aos domingos as 6 da manhã e ligar a tv pra ver Vovó Mafalda. Lembro de ir no circo do Sérgio Malandro e jogar uma torta na cara do monstro. Lembro de ir no show da Eliana e achar que a Xuxa era bem melhor que ela. Lembro que eu tinha uma bota da Xuxa roxa com rosa, que eu usava todos os dias sem exceção. Lembro que eu fazia coleção de discos de Vinil que iam do Balão Mágico a Sandy e Junior. Lembro de saber cantar todas as músicas. Lembro que as minhas maiores preocupações era conseguir ficar mais de uma semana sem castigo.

Lembro que um dia me disseram que era preciso crescer e que eu já estava virando uma mocinha. Lembro de achar toda aquela história de virar uma mocinha muito chato.

Lembro de tudo isso hoje, com muito mais que nostalgia. Lembro com uma vontade enorme de inocência e pureza. Lembro com uma vontade de recomeço.

8 comentários:

Cris disse...

Lembro também que muitas vezes eu me esqueço de querer tudo isso novamente... e aí parece tudo tão margo, tão frio, tão distante... e pra falar a verdade eu não queria voltar a ser criança, eu queria mesmo era que "eu-criança" voltasse pra mim.

Adrielly Soares disse...

Nostalgia, acho que é o sentimento que mais tenho. Tenho que aprender a viver mais o presente.

Dê zÁ disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Dê zÁ disse...

Ainnn! Que lembranças gostosas! saudades dessa epoca! Fico muito feliz por fazer parte da sua infância, e vc, da minha vida! Vc é muito importante pra mim, prima! Saudades incontaveis de vc!

NeW disse...

Eu li e também me lembrei de muita coisa, eu nessa época não conhecia você nessa época, mas éramos crianças e crianças são sempre crianças... umas de um jeito, outras de outro, mas sempre crianças... tive vontade de tudo simples, como na infância e apesar de parecer muito distante essa época, senti que dá pra simplificar uma porção de coisas chatas de adulto, basta eu querer que seja assim, basta eu fazer assim, ainda que às vezes cause uma dorzinha chata, constragimento talvez, mas ser criança, ser descomplicado é mais fácil do que eu imagino... sempre é!

carol disse...

“As crianças não são o futuro porque um dia serão adultos, mas porque a humanidade vai se aproximar cada vez mais da criança, porque a infância é a imagem do futuro”. (kundera, em o livro do riso e do esquecimento)

eu li seu texto, lembrei desse trecho, procurei pra escrever pra você, e agora ele já faz um sentido completamente diferente da outra vez que li e guardei. e já não cabe, de maneira alguma, no seu saudosismo. mas mesmo assim posto, convite ao pensar, e obrigada por me dar, sem querer, a atualização de uma ideia.
um prazer, a propósito... acho que nunca nos visitamos rs.

Insolente disse...

e eu queria tanto ser mocinha! Pra usar os brincos dourados e poder fazer o que eu quisesse. Continuo na vontade de fazer o que eu quisesse...

Tiago de Paula disse...

ahhh, quero te levar no colo...