Pela janela entrava a luz da noite, fracamente iluminava a sala e o corredor. Ali, em meio à pouca luz estava ela, sentada num canto da sala com uma garrafa de wisky do lado já pela metade. Fora a única bebida alcoólica que sobrara em sua casa e embora não gostasse muito, sentia que ele havia lhe suprido bem a necessidade.
A sua necessidade não era química e sim racional. Sim, racional. Seu maior pecado sempre fora pensar demais, calcular milimetricamente todos os danos e consequências que seus atos poderiam causar. Consequências haviam várias pairando em sua cabeça, mas os atos eram escassos em sua vida.
Porém, agora, depois de meia garrafa de wisky e com o som em volume insurdecedor, ela se sentia incapaz de pensar demais. E estava gostando disso. Podia sentir muito mais do que pensar. Cada nota que saía do som era como uma explosão, um encontro de pele, coração e cérebro. Um conjunto em perfeita harmonia. Ela era agora só impulso. Impulso e coragem.
Se sentiu capaz de fazer qualquer coisa, seus problemas emocionais de repente se tornaram tão insignificantes que ela não saberia explicar. O que ela sabia era que algo precisava ser feito. Não mais esperaria pelo momento perfeito, pelo clima mais romântico ou quiçá pelo dia em que seu horóscopo lhe desejaria maior sorte. As consequências foram esquecidas em algum lugar há bastante tempo atrás e ela não se importara disso. Então, dali do canto da sala, ela avistou seu celular, jogado em cima do sofá. E decidiu que esse era o momento. Se pudesse se descrever naquela noite ela seria nada mais que o Agora.
Se levantou com certa dificuldade do chão e se caminhou para o sofá, se jogou em meio as almofadas enquanto tentava com dificuldade achar o telefone dele na agenda.
-Por que diabos as teclas do celular ficaram tão pequenas e meus dedos tão grandes de repente?Ainda na luta com o celular ela se virou de lado no sofá e se ajeitou melhor. Outra luta era travada ali agora, não mais com o celular mas com o sono anormal causado pelo álcool, mas contra o sono, ela decidira não lutar, sabia que ele era mais forte e então se rendeu. O telefone caiu de suas mãos e foi ao chão, mas não só ele como também a necessidade de atitude e reação que gritavam incessantemente dentro dela.
"A razão é como uma equação
De matemática, tira a prática
De sermos, um pouco mais de nós!"
O teatro mágico